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28.12.10 às 10:08

Troque você o mogno pelo eucalipto

Pensar que preservação de floresta é coisa somente para governos, políticas públicas, ONGs, é ledo engano. A força do consumidor é poderosa, por Edgar Werblowsky
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Eu não sei se você sabe, mas você pode fazer muito mais pela preservação da Floresta Amazônica do que imagina. Posso? Sim. Você mesmo, cidadão paulistano, lendo prazerosamente seu jornal dominical, sentado preguiçosamente e merecidamente na varanda de seu apartamento nos Jardins. E mais, de uma maneira muito fácil, sem ter que se misturar a ecologistas que possam estar conduzindo uma dessas passeatas por aí. De uma maneira muito fácil, e que pode vir a ter um impacto dramático na manutenção da floresta. Explico. Mais de 40% do mogno retirado da nossa Amazônia vem parar no sul e sudeste brasileiro (do restante, 22% são utilizados nas outras regiões do país, e 36% seguem para a Europa, Estados Unidos e Ásia).

Grande parte dela é utilizada pela construção civil, e parte importante vai parar nas residências dos paulistanos, através da fabricação de móveis de mogno e de outras madeiras da floresta amazônica. Ao trocar o móvel de mogno por um de madeira plantada, como o eucalipto, você está dando um passo para salvar uma árvore amazônica da destruição. A redução no consumo naturalmente acarretará a redução do valor destas madeiras, diminuindo a voracidade da derrubada ilegal.

Convoco especialmente os Bergamin, os Armentano. Que lideram o bom gosto, a moda, a decoração. Fashion. Convoco-os, em nome de nossa posteridade, de nossos filhos, de nossos netos, a que adiram à causa. Que vocês, como criadores da moda, do estilo, inovem mais uma vez.

Convoco os cidadãos brasileiros a participar. A fazer uma revolução, minúscula, no seu jeito de comprar. A dar um passo, que pode mudar muito.

Objetivos da campanha

O objetivo da campanha é sensibilizar o cidadão, o consumidor do sudeste do país (numa primeira etapa) de que ele pode substituir a compra de móveis de mogno e de outras madeiras da Amazônia por móveis de eucalipto (já fabricados com muito sucesso e qualidade em Santa Catarina). Se os consumidores do sul e sudeste do país trocarem apenas 20% de suas compras destas madeiras tropicais por eucalipto estarão poupando da destruição, por ano, cerca de 175.000 árvores da Amazônia. É uma monstruosidade. Se conseguirmos varrer o mogno de nossa lista de compras, nós, só no sul e sudeste, estaremos deixando em pé 875.000 árvores.

Ao se estimular a utilização do eucalipto, estamos, em paralelo, estimulando também o plantio desta árvore em áreas já degradadas, longe de rios e aqüíferos (já que o eucalipto é um grande usurpador de água). O Brasil possui extensas áreas propícias para este tipo de plantio. O importante é envolver o consumidor com o consumo consciente, preservando nossas reservas amazônicas.

Entre os próximos objetivos da campanha estão a conscientização das empresas construtoras de apartamentos e também a sensibilização dos mercados europeu e americano, perfazendo, assim, quase o ciclo total do consumo.

“Acreditamos que podemos e devemos ajudar a mudar. Acreditamos que temos o dever e a oportunidade de proporcionar a nossos ecoturistas as ferramentas para assegurar um Brasil mais responsável, e que cuida com responsabilidade de seu patrimônio natural. Estamos sempre atentos para passar mensagens de conservação, tanto do patrimônio físico, quanto das riquezas culturais e humanas de nossa gente, nossas comunidades, nossas minorias”, diz Edgar Werblowsky, diretor e fundador da Freeway. “Temos um compromisso com a sociedade e o planeta”, acrescenta ele.

Vocês conhecem o eucalipto? Pensam que ele é só aquela madeira feia que serve para usos industriais? Engano. Existem fábricas que têm feito um belo trabalho, tratando-o de maneira adequada, e produzindo móveis de grande beleza e durabilidade (até resistentes à chuva), que a maioria de nós ainda nem viu.

Pensar que preservação de floresta é coisa somente para governos, políticas públicas, ONGs, é ledo engano. A força do consumidor é, por incrível que possa parecer, extremamente poderosa. Muito mais silenciosa, muito mais sorrateira, de efeitos mais duráveis e a salvo de pressões políticas, de propinas, etc, etc.

O problema da Floresta Amazônica é que nós, a grande massa política do país, a sociedade que influi e reclama, estamos muito longes, fisicamente, dela. São mais de 3 mil km de distância, uma eternidade, de maneira que parece que o que acontece com ela está muito longe de nosso cotidiano. É só coisa de televisão para nós. Quase como se estivéssemos assistindo a um tsunami. Este é o problema. Incomodamo-nos muito mais com o buraco no asfalto à frente de nossas casas, com o cheiro do lixo na esquina, do que com a derrubada de milhares de quilômetros quadrados de floresta.

Assim como conseguimos tornar fora de gosto exibir uma pele de onça em nosso colo, creio que poderemos banir também a utilização do mogno em nossa mobília. Lembram-se daquelas belas peças de jacarandá-da-Bahia que tínhamos em casa? Das portas de correr nesta madeira linda, nas estantes de nossas salas? Pois é, ele já se foi. Já era. Se você tem menos de 40 anos dificilmente vai se lembrar.

Se trocarmos o mogno pelo eucalipto, nossos amigos devastadores da floresta amazônica vão ter menos encomendas. A demanda por aquelas árvores imensas sendo derrubadas vai cair. O preço vai cair. A voracidade da destruição diminuirá. Imaginem milhões de consumidores. Que força. Como formiguinhas, cada um fazendo uma pequena parte. A Marina vai poder dormir um pouco mais sossegada já que nós seremos seus “fiscais” voluntários. Já pensaram?

Bergamin, Armentano, conto com vocês. Abraços.

Maiores informações sobre a campanha podem ser obtidas em http://www.freeway.tur.br.

(*) Edgar Werblowsky é diretor de inovação, relacionamento e ações socioambientais da agência FreeWay Brasil e diretor do TOI – Tour Operators Initiative for Sustainable Tourism Development – UNEP – ONU.

Fonte: Agência Envolverde

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