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24.12.10 às 4:14

Soja amazônica poderá ser certificada

ONG, com o apoio da embaixada britânica e de multinacional, lança projeto para que a produção na floresta seja regulamentada
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Comentário Akatu: É importante estabelecer limites para o cultivo extensivo de grãos, que exigem grandes áreas para o plantio e causam problemas como erosão do solo. A soja é uma mercadoria importante para a economia brasileira, mas sua produção não deve ameaçar áreas de floresta nativa. A sociedade deve acompanhar os desdobramentos deste projeto, para conferir se o mesmo realmente irá coibir o desmatamento da Amazônia.

Indicada como um dos atuais culpados pelo desmatamento crescente da Amazônia, a soja pode receber um habeas corpus. A organização não-governamental The Nature Conservancy, financiada pela embaixada britânica e com apoio da multinacional Cargill, lançou um projeto para certificar a soja plantada na floresta.

O lançamento aconteceu no final de abril, em Brasília, durante um seminário que reuniu grupos ambientalistas, técnicos e produtores de grãos, além de representantes dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. O governo britânico entra com R$ 1,2 milhão, e a Cargill, maior exportadora de soja em grãos do país, com cerca de 200 fornecedores que trabalham nas proximidades de Santarém (PA) _onde, aliás, a empresa tem um porto para descarregar sua produção.  A TNC pretende monitorar os participantes e testar, no campo, os processos que a futura certificação seguiria.

Entre os processos está o respeito à legislação ambiental, diz a representante nacional da TNC, Ana Cristina Barros. Uma das questões que serão debatidas para a certificação é o uso de terras já desmatadas para o cultivo.

A bandeira erguida pela ONG é: “melhor antes do que tarde”, uma vez que a soja já consome o solo da Amazônia. Regulamentar a produção, e assim valorizar a sustentabilidade socioambiental, é um caminho válido se comparado ao futuro sombrio da agricultura avançando de forma descompassada através da floresta, como pintam os ambientalistas.

Segundo Ana Cristina, um produtor na Amazônia precisa guardar 80% da propriedade como reserva legal e respeitar matas ciliares, áreas de declive e topos de morros _medidas que evitam a erosão. “Hoje, 17% da Amazônia está desmatada,um índice bastante próximo do teto legal. Não haveria conversão de terras.”

Um levantamento recente feito pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais (FBOM), com base em imagens de satélite coletadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), demonstra que 70% das áreas desmatadas na Amazônia são usadas atualmente para a agricultura – das quais 55% têm soja plantada, e outros 35%, arroz.  Contudo, a mesma análise mostra que grandes áreas desmatadas entre 2000 e 2003, com mais de mil hectares, já têm soja e arroz plantados.  “Por mais que seja uma opinião quase exclusiva da TNC, a certificação pode ser um incentivo ao cumprimento da legislação ambiental”, diz ela.

A Imaflora, empresa certificadora do setor madeireiro, entrará no processo levantando a situação dos produtores em relação aos critérios existentes e avaliando as necessidades socioambientais da região.

Para o Greenpeace, o projeto “não é uma opção sustentável para a Amazônia”, e pode acabar contribuindo para o desflorestamento, diz Paulo Adário, coordenador de campanhas do grupo na região.  O grão, comenta ele, exige o cultivo extensivo, “é grande concentrador de território” e provoca um problema social ao substituir mão-de-obra por maquinário. “Além disso, a soja provoca uma perda rápida de nutrientes do solo, o que pede uma compensação com insumos agrícolas.”

A própria Ana Cristina admite que a certificação pode ser encarada, à primeira vista, como um incentivo à expansão agrícola em terras amazônicas. A derrubada de árvores para abrir espaço a áreas plantadas é uma bomba-relógio, cujo combustível é o melhoramento da BR-163, que liga Santarém a Cuiabá (MT) e serviria como principal rota de escoamento da soja do Centro-Oeste e do próprio Pará.  A área de influência nas laterais da estrada já se expande progressivamente.

Para Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra, o projeto precisa definir até onde a propriedade poderá se expandir e ainda ser certificada.  “Este é um item que será objeto de discussão.” Smeraldi também comenta que o projeto vai encontrar outro problema: o fato de o mercado de soja se regular internamente, sem a participação direta do consumidor. A soja, lembra ele, é consumida no Brasil em produtos industrializados, de sorvetes a biscoitos, sendo difícil para o comprador final exigir o certificado.

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