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22.09.11 às 12:26

Rio+20: Balanço global

Não é um evento do qual se possa esperar produto acabado, é um “momento intenso" de encontro e de avanços
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Comentário Akatu: O atual modelo de produção e consumo, caracterizado por enormes oportunidades de redução de desperdício, é seguramente o principal fator de ameaça à sustentabilidade da vida no planeta, e, portanto, à qualidade de vida individual e coletiva, à economia global, aos recursos naturais do planeta e ao bem estar das gerações futuras. Um novo modelo de produção pode fazer muito por uma maior sustentabilidade, mas não o suficiente para que se garanta o equilíbrio dos ecossistemas naturais e das relações sociais. Somente se também houver um consumo que se paute pelo atributo da suficiência no atendimento das necessidades materiais e de reconhecimento social será possível garantir o bem estar presente e futuro. A busca destes objetivos contribuirá para a garantia da paz e da redistribuição da riqueza. Pensá-los no contexto de uma nova governança mundial e da ampliação maciça do consumo consciente devem ser temas centrais nas discussões da Rio+20.

 

Quando o mundo reuniu-se no Rio de Janeiro, em 1992, para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco 92), com objetivo de conciliar desenvolvimento socioeconômico e a preservação dos ecossistemas, o conceito de “Desenvolvimento Sustentável” foi consagrado. Naquele ano, a população global era de 5,4 bilhões de habitantes e o PIB mundial de 28 trilhões de dólares. 20 anos depois, com uma população global de 7 bilhões de habitantes e um PIB de 78 trilhões de dólares (US$ 50 tri a mais), a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) foi convocada para o Brasil em junho de 2012. Juntos, governos, corporações e sociedade civil farão o balanço do planeta, apurando lucros e prejuízos, debatendo o desenvolvimento global.

Apurações para balancetes estão em curso. As 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (aproximadamente 7% da população mundial) são responsáveis por 50% das emissões globais de carbono, enquanto os 3 bilhões mais pobres são responsáveis por apenas 6%. Os 16% mais ricos do mundo são responsáveis por 78% do total do consumo mundial, ficando para os 84% restantes, apenas 22% do total global a ser consumido.

Hoje, são extraídas 60 bilhões de toneladas de recursos anualmente, 50% a mais do que há apenas 30 anos. Entre 1950 e 2010 a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e o consumo de gás natural, 14 vezes; revela o Estado do Mundo 2010, relatório do WWI (Worldwatch Institute). Junto com o crescimento da desigualdade social também escalam a tensão e a violência nas cidades que ocupam apenas 0,4% da superfície do planeta.

No artigo intitulado “O real significado da demanda do consumidor”, publicado em 1955, o economista americano Victor Lebow marcou o inicio da corrida consumista que o mundo ainda não conseguiu frear: “Nossa economia enormemente produtiva exige que façamos do consumo nossa forma da vida, que convertamos a compra e o uso de bens em rituais, que busquemos satisfações espirituais e satisfações do ego no consumo. A medida do status social, do prestigio, deve ser encontrada agora em nossos padrões consumistas e o significado de nossas vidas expresso em termos de consumo”.

O resultado desta visão, ainda vigente, proliferou, levando o americano médio a consumir atualmente 88 quilos de recursos diariamente e o europeu médio, 43 quilos. A China, que tem hoje 22% da população do planeta e apenas 7% das terras aráveis, embalada pelo modelo americano, já consome três vezes mais grãos e duas vezes mais carne que os EUA. Os chineses compram hoje mais carros que os americanos. Dezoito milhões de novos veículos de passeio entraram nas ruas chinesas só em 2010 (toda frota brasileira é de 32 milhões de veículos). Com o crescimento da economia chinesa, se cada chinês consumir, por exemplo, a mesma quantidade de papel que os americanos consomem atualmente, em 2030, os 1,46 bilhão de chineses, sozinhos, consumirão todo papel que o mundo produz hoje.

Onde vamos parar? Em 1804 a população humana atingiu o primeiro bilhão. 130 anos depois, em 1930, chegou a 2 bilhões. Com os avanços da ciência e tecnologia e a queda da mortalidade infantil, o ritmo acelerou. Em 1960, chegamos a 3 bilhões. Em 1974, 4 bilhões; 1987, 5 bi; 1998, 6 bi; e continuamos crescendo. Como nos planejar para atender aos atuais 7 bilhões de habitantes – metade urbanos, amontoados em cidades – e mais os 75 milhões de novos habitantes/consumidores acrescidos anualmente à população humana?

Forjada há meio século a equação do PIB, de catarata, não consegue mais enxergar fatos e dados consagrados pela sustentabilidade como o nível de eficiência das instituições, o valor da inovação, do capital social, o capital natural, a conectividade e a descarbonização. Novos indicadores macroeconômicos como o IPG (Indicador de Progresso Genuíno) e a Pegada Ecológica, ajudados pelas novas regras do IFRS (International Financial Reporting Standards – pronunciamentos contábeis adotados nos demonstrativos financeiros em todo o mundo, inclusive no Brasil) somados à inteligência artificial e à conectividade da internet, contribuem na montagem do novo balanço global.

Agências de classificação de risco já começam a monitorar a sustentabilidade setorial. Assim como graduam a capacidade de uma empresa ou um país de cumprir compromissos financeiros, dando notas e influenciando mercados, agencias como a Standard & Poors, sintonizadas com a realidade corrente e evoluindo na acreditação, já disponibilizam indicadores como os S&P Global Thematic Index Series e o S&P/ASX (Sustainability Reporting Practices).

Se tivéssemos que eleger uma palavra para traduzir sustentabilidade talvez “equilíbrio” fosse a melhor candidata. Sustentabilidade é a busca do equilíbrio dinâmico entre os complexos contextos da realidade – seja em uma casa, uma empresa, uma cidade, um país ou no planeta. A Rio+20 não é um evento do qual se possa esperar produto acabado, é um “momento intenso” de encontro e de avanços entre governos, corporações e pessoas conectadas, teando inteligência nova para enfrentar o desafio da construção de uma “economia equilibrada” – apelidada de green economy.

Eduardo Athayde é diretor editor do WWI (Worldwatch Institute) no Brasil.

 

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