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12.01.11 às 4:54

Pequena empresa tem responsabilidade social?

A responsabilidade social das empresas vem se confirmando como uma tendência pós-globalização que se estende também às pequenas empresas
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“A diferença entre o homem e a máquina é que para o homem existe um talvez”
Mário Quintana

Este artigo defende que a responsabilidade social das empresas vem se confirmando como uma tendência pós-globalização e que esta se estende também às pequenas empresas. Ao mercado foi delegada total liberdade de ação, reservando ao Estado apenas a função reguladora. Tal autonomia, sem regras e definição de compromissos, vem resultando no aumento das desigualdades sociais, expondo milhares de pessoas a condições socioeconômicas muito desfavoráveis.

Diante dessas contradições, estamos descobrindo o valor das parcerias: poder público, iniciativa privada e sociedade. Para se alavancar os resultados esperados – uma sociedade mais justa -, todos têm a sua parcela a cumprir, em especial o setor privado. Destacamos aqui a possibilidade de a pequena empresa também dar a sua contribuição para as causas sociais e, como retorno, garantir seu espaço no mercado e ter a satisfação de contribuir para a construção de um mundo melhor.

Começa-se, então, a discutir o novo papel da empresa no cenário criado pelo fenômeno da globalização, num esforço visível de melhor identificar e dimensionar suas relações com os inúmeros universos de interesses e, principalmente, conhecer claramente os níveis de contribuição socioeconômica em seu ambiente de atuação.

Numa visão mais interativa e co-responsável, consagra-se o conceito de que as empresas desempenham duas funções basilares:

I – A função econômica, que busca a maximização da taxa de retorno dos recursos financeiros investidos por seus proprietários ou acionistas;

II – A função social, que busca, mediante distribuição da riqueza gerada, promover o bem-estar dos grupos sociais que com ela interagem

No mundo inteiro, cada vez mais consumidores levam em consideração tais aspectos na hora de escolher produtos e serviços, à medida em que se amplia a consciência sobre a responsabilidade de preservação do meio ambiente e a viabilidade de aplicação de parte dos lucros das empresas em projetos que beneficiem os trabalhadores e a sociedade. Com velocidade intensa vem se disseminando a tendência do consumo consciente e isto leva as empresas a discutirem, substancialmente, qual é o seu papel nesta nova fase histórica.

Parte da riqueza gerada pelas atividades econômicas da empresa deve ser distribuída à comunidade onde ela se insere, tornando-se co-responsável pelo seu desenvolvimento econômico e social. Os salários pagos, os investimentos com a formação profissional dos empregados, os impostos pagos ao governo, a renda paga ao investidor de capital, ao lado das condições de higiene e segurança do trabalho, do combate à poluição e proteção ao meio ambiente, são alguns aspectos de como as empresas atuam e influenciam diversos segmentos da sociedade.

Em função dessa nova visão do mundo empresarial, surge a necessidade de demonstrar à sociedade como a empresa encara as suas responsabilidades públicas. Para isto é preciso que se criem instrumentos de prestação de contas demonstrando seus gastos e seus comprometimentos com o bem-estar coletivo. O balanço social apresenta-se como um dos mais eficientes instrumentos de prestação de contas. Atualmente ele tem a função de marketing corporativo, porém caminha para que se transforme em obrigação legal, pois é um convite à transparência. Tal procedimento redefine, inclusive, o conceito de propaganda, pois ao invés de apresentar produtos e serviços, divulga as ações cidadãs da empresa.

Nessa perspectiva, ressaltamos a necessidade e a possibilidade de as micros e pequenas empresas, que atuam como o alicerce da economia do país gerando empregos e produzindo riquezas variadas, começarem a praticar o investimento social. Tal procedimento resultará em expectativa de fortalecimento e longevidade.

Uma das particularidades das pequenas empresas é o seu baixo faturamento (se comparado àquelas que já publicam seus balanços sociais). Tal peculiaridade, muitas vezes, é utilizada como justificativa para o não investimento social e ambiental. Mas, não é apenas concedendo recursos financeiros que o pequeno empresário desenvolve a responsabilidade social. Princípios e ações de cidadania podem ser implantados sem grandes custos adicionais. Internamente, o investimento em capacitação e gerenciamento racional resultará em aumento de produtividade e redução de custos. A diferença deve ser direcionada para a regularização da situação funcional dos empregados, muitas vezes à margem da legislação trabalhista. Externamente, ele pode incentivar seus funcionários, e até ceder algumas horas de trabalho dos mesmos, em regime de revezamento, em dias pré-estabelecidos, para que desenvolvam projetos sociais, filantrópicos ou ambientais, mensurando esse dispêndio (as horas dispensadas no trabalho) no balanço social. Outro cuidado é o gerenciamento dos resíduos advindos da produção, tornando-se responsável até o ciclo final. O meio ambiente agradece.

Iniciativas como esta nos remetem a questionamentos contrários à lógica capitalista perversa. Ao invés de perguntarmos “quanto é que eu vou ganhar com isso?”, podemos refletir sobre “quanto é que a comunidade ganhará com isso?” Além do bem-estar da coletividade, empresa e empresário se beneficiam também. Vejamos alguns aspectos:

  • A divulgação do balanço social evidencia a solidez financeira da empresa;
  • A demonstração do retorno de parte de seu lucro à sociedade atesta compromisso. Tal investimento se reverte em marketing favorável à empresa. Através de uma postura cidadã, agregam-se valores intimamente ligados à emoção das pessoas a um custo muito menor. Como resposta, teremos a fidelidade do consumidor;
  • Quanto maior for a divulgação, mais pessoas ficarão sabendo que alguém está fazendo alguma coisa boa e seus concorrentes perderão espaço.

A responsabilidade social, portanto, não deve se tornar um dos princípios apenas das grandes corporações. Independente do tamanho da empresa, com criatividade e compromisso social, sempre há o que pode fazer, conciliando ônus e bônus num momento tão competitivo. O setor privado tem grande responsabilidade sobre o desenvolvimento social da nação, principalmente num país onde o setor público sempre esteve aliado aos interesses minoritários, resultando em espoliação da maioria e “pilhagem” da natureza.

Fabiana Ferreira Pascoaloto é aluna do 4º ano de Ciências Contábeis do Centro de Ensino Superior de Dracena/SP (CESD)

BIBLIOGRAFIA

KROETZ, C. E. Stevens. Balanço Social. Teoria e prática. São Paulo: Editora Atlas, 2000.

RIBEIRO, M. de S. e LISBOA, L. P. Balanço Social. Revista Brasileira de Contabilidade nº 115, jan/fev 99 – Ano XXVIII, p: 72-81.

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