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01.12.10 às 11:59

Padarias de São Paulo começam a recolher óleo de cozinha usado

Em vez de jogar o óleo no ralo da pia ou no lixo, consumidor paulistano poderá levá-lo a uma das 2 mil padarias que participarão da campanha
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A campanha de coleta de óleo de cozinha usado, lançada pelo Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sindipan), já conta com adesão de mais de 150 padarias da capital. Até o final de julho, a Sindipan espera que 2 mil padarias estejam prontas para recolher o óleo levado pelos clientes. Os estabelecimentos participantes terão galões instalados no local para receber o resíduo. O consumidor poderá levá-lo em garrafas usadas (PET) de refrigerantes ou usar um pote de plástico de 1 litro, vendido nas próprias padarias a R$ 1,50.

Antero José Pereira, presidente do Sindipan, explica que encaminhar o óleo usado para reciclagem já era uma prática comum da maioria das padarias. “O que fizemos foi estender essa oportunidade aos cidadãos, que passam a aproveitar a estrutura já instalada”, explica. Segundo Pereira, desde o lançamento da campanha, a pressão da população tem sido determinante para a rápida adesão de novos estabelecimentos. “Geralmente as padarias têm fregueses assíduos, e eles cobram bastante essa adesão. Por isso, esperamos chegar a 2 mil pontos até o final do mês”.

Para Heloísa Torres de Mello, gerente de operações do Instituto Akatu, isso demonstra uma tendência que já vem sendo revelada pelas últimas pesquisas feitas pelo Akatu junto aos consumidores. “O consumidor está cada vez mais preocupado com os impactos que causa ao meio ambiente e, por isso se torna mais exigente”, avalia. “É importante que ele não apenas se preocupe com os impactos do seu consumo, mas também cobre das empresas que participem de campanhas como essa.”

Consciência com praticidade
O engajamento dos estabelecimentos comerciais na coleta de óleo de cozinha usado facilita a vida do consumidor consciente, que muitas vezes tem dificuldade de descartar corretamente os materiais que podem ser reciclados. A dentista Leila Fernandes de Souza, 47 anos, mora na região central de São Paulo com o marido e dois filhos. A família consome em média três litros de óleo por mês, que depois de usado vai direto para o ralo. “Antes, a gente depositava no condomínio vizinho, que é bem maior que o nosso e tem coleta seletiva, mas não era nem cômodo, nem prático para mim”, explica a dentista. “Mas, agora vai ser diferente. Cada vez que for à padaria, levarei o óleo sem precisar gastar muito tempo”, festeja.

Se as latas de óleo de cozinha usadas todos os meses pelos brasileiros fossem colocadas lado a lado, formariam uma fila de 9.000 km, maior do que os 7.600 km equivalentes ao percurso do Oiapoque ao Chuí, passando por todas as praias brasileiras do extremo norte ao extremo sul do país.

Ao deixar de jogar o óleo na pia, Leila de Souza e todos os consumidores que adotam a mesma prática evitam os vários danos que esse resíduo provoca. O primeiro deles é que o óleo pode entupir os encanamentos da casa ou do prédio, trazendo prejuízo aos moradores. Além disso, a presença do óleo na rede de esgoto e nas estações de tratamento dificulta e encarece o tratamento de esgoto, contribuindo para gastos públicos mais altos e contas de água mais caras para o consumidor.

Em regiões onde não há tratamento — o que ocorre com 60% do esgoto coletado no Brasil — o impacto é ainda pior, pois o óleo vai parar diretamente nos rios. Nesse caso, o óleo não apenas contamina a água, mas também se deposita na superfície de rios e represas. Isso impede a entrada de luz que alimenta a matéria orgânica que serve de alimento aos peixes, dificultando sua sobrevivência.

Descartar o óleo usado no lixo, acondicionado em um vidro ou em um recipiente plástico, é uma alternativa melhor do que vertê-lo na pia, mas também não é uma boa solução. No Brasil, 60% do lixo produzido não vai para aterros sanitários — o que seria a destinação correta —, mas jogado em lixões. Como o solo dos lixões não é impermeável, o óleo infiltra pelo chão e contamina a água dos lençóis freáticos. Além de evitar tantos danos ambientais, a coleta seletiva do óleo traz vários benefícios. Em São Paulo, o óleo coletado pelas padarias será encaminhado a ONGs que trabalham com a reciclagem desse resíduo, reaproveitando-o na fabricação de sabão e de biodiesel. Hoje, apenas 5% do óleo usado é reaproveitado no Brasil. Segundo Célia Marcondes, presidente da Ecoleo, uma ONG que coordena ações de coleta, armazenamento e reciclagem de óleo usado, “garantimos a eliminação de resíduos sem danificar o meio ambiente e, ainda por cima, há geração de renda para as pessoas que trabalham na ONG”.

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