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27.04.18 às 11:55

O oceano nunca esquece como você descarta as suas embalagens

Imagem que viralizou nas redes sociais é usada para lembrar o papel do consumidor no descarte correto de embalagens

O que há de inusitado na imagem acima? Talvez você não tenha reparado em um detalhe importante: o número 1976 refere-se ao ano da edição especial do iogurte criada para comemorar os Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá, há mais de 40 anos. A imagem rodou o mundo em 2016 pelas redes sociais, por conta de um post no Twitter escrito por um francês que afirmou ter encontrado a embalagem preservada em uma praia.

O pote da foto é um indicativo simbólico das toneladas de resíduos que poluem os oceanos diariamente, sendo extremamente difícil a sua remoção. Isso prejudica não só as espécies que vivem nos mares, que confundem os resíduos com comida e muitas vezes perdem a vida. Prejudicam também a nós mesmos, já que estamos no topo da cadeia alimentar e, ao consumir peixes e frutos do mar, pequeninas partículas de plástico que terminarão por fazer parte de nossas refeições.

Todos os dias, as cidades do mundo produzem lixo suficiente para encher completamente caminhões de lixo enfileirados ao longo de cinco quilômetros, segundo o Banco Mundial. Quando não há cuidado suficiente na gestão dos resíduos sólidos, especialmente no sentido de direcioná-los sempre que possível para a reciclagem, uma parte desses resíduos vai parar nos oceanos, seja porque foram jogados nas ruas, seja porque os sacos de lixo foram descartados em locais inadequados ou porque a cidade não faz uma coleta adequada, entre outras razões.
Nesses casos de descarte inadequado, os itens plásticos, por serem geralmente leves, são facilmente carregados pela chuva e pelos rios, chegam até os mares. A cada ano, 8 milhões de toneladas de resíduos despejadas nos oceanos, o que equivale a despejar o conteúdo de um caminhão de lixo por minuto!

Por outro lado, é preciso reconhecer a importância do plástico em nossa sociedade. Versátil, higiênico, moldável, muitas vezes reciclável, flexível, barato, durável e resistente, é um material presente cotidianamente na vida contemporânea. E mesmo que viesse a ser substituído, não nos iludamos, seria preciso dispor dos resíduos de seu substituto adequadamente para que não viesse a ocorrer o mesmo que ocorre hoje com os resíduos plásticos. Em outras palavras, o problema não é o plástico em si, mas sim a forma como são descartados os produtos. Isso é especialmente verdade para os produtos descartáveis, que, pelo seu uso frequente, e seu descarte após um ou dois usos, acabam sendo “jogados fora” com grande frequência e em grande volume. Nesses casos, é preciso evitar a banalização do uso do plástico em produtos descartáveis, categoria que deveria ser usada apenas quando os produtos são relacionados à saúde e à segurança dos consumidores (por exemplo, seringas usadas para aplicação de injeções intra musculares). E, mesmo nesses casos, com ainda maior razão do que com os resíduos plásticos em geral, é preciso que seu descarte seja feito de maneira correta, de forma segura e controlada.

Somente um esforço conjunto é capaz de solucionar esse problema sério e complexo. Governo, empresas e população devem se empenhar tanto em reduzir o uso dos produtos descartáveis de plástico, substituindo-os por produtos não descartáveis (que muitas vezes são de plástico!), quanto em garantir uma gestão adequada de seus resíduos.
Ao consumidor, portanto, cabe fazer a destinação correta dos resíduos: separar o “lixo orgânico” (resíduos de origem animal ou vegetal, como alimentos) do “lixo seco” (papel, metais, vidro e plástico, por exemplo), além de garantir que os resíduos secos sejam encaminhados para cooperativas que fazem a separação correta dos itens recicláveis e os enviam para a reciclagem.

Mas, reciclar NÃO É suficiente. O consumidor consciente deve também buscar REDUZIR o volume de lixo que produz. No caso do plástico, uma atitude muito importante, como mencionado acima, é evitar o uso de itens descartáveis, que são usados uma ou duas vezes, buscando substituí-los por uma versão durável. Este é o caso dos canudos; dos copos, pratos, talheres descartáveis; e das sacolinhas plásticas. Cerca de 35% dos plásticos produzidos são usados apenas uma única vez, por apenas 20 minutos. E, face ao seu descarte inadequado após o uso, cerca de 10% deste material, quando descartado, tem como destino o mar, como revelou um estudo da fundação Race for Water.

As empresas também têm um papel importante no combate à poluição dos oceanos, cabendo a elas, além de educar o consumidor, inovar para buscar soluções para as suas embalagens, buscando trazer menor impacto ao meio ambiente e à sociedade. Por outro lado, como hoje a maior parte dos plásticos não se degrada (apenas se decompõe em pequenas partículas), é desejável que as empresas fabricantes de matéria prima se dediquem ao desenvolvimento de plásticos que sejam biodegradáveis e que não gerem produtos nocivos em sua decomposição. Embora já existam no mercado materiais deste tipo, estes ainda não conseguiram ganhar escala.

Um caminho complementar, para a indústria de consumo, é promover a oferta de produtos concentrados, que permitam o uso de embalagens menores, que resultaria em uma diminuição da quantidade de resíduos descartados, minimizando desta forma o problema do descarte incorreto por parte dos consumidores, além de outros benefícios ambientais.

Também é preciso criar processos que permitam ao consumidor retornar os resíduos plásticos às empresas que irão reprocessar tais itens, visando garantir uma destinação adequada – a chamada “logística reversa”, prevista na Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS).

O governo tem o papel de apoiar a infraestrutura que viabiliza a coleta e reprocessamento dos resíduos. Também deve apoiar o desenvolvimento de tecnologias que amenizem o problema, fortalecendo as boas iniciativas da indústria e promovendo mudanças de comportamento da sociedade – seja por meio da legislação, que incentive as soluções mais sustentáveis, seja por meio da educação e de campanhas educativas que apoiem estruturalmente a mudança de comportamento do consumidor. Cabe, portanto, à população pressionar os representantes políticos para que criem as leis e apoiem iniciativas nas áreas de educação e comunicação, fundamentais para consolidar uma mudança gradual e definitiva. A responsabilidade é portanto compartilhada por todos os atores da sociedade, sem o que as soluções não irão funcionar. Vamos todos participar desse esforço juntos?

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