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28.12.10 às 10:29

O (não) consumo verde

Devemos parar de consumir como forma de preencher o tempo livre, satisfazer nossas necessidades afetivas e por admiração, por Vicki Robin
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Você planta árvores, divide o carro com outros e recicla?

Você pré-cicla, comprando produtos sem embalagens plásticas ou de papelão que você teria que jogar fora?

Você “pesquisa para um mundo melhor”, comprando produtos de empresas socialmente responsáveis?

Parabéns! Você é um consumidor verde – mas todas essas práticas não são mais o suficiente. Consumir de maneira “verde” é, ainda assim, consumir. Encontrar maneiras de não consumir agora constitui a linha de frente da revolução ambiental. Verde, que antes era o sinal de SIGA (“go green”), é agora o sinal de PARE.

Hoje, todos sabemos que devemos “salvar o planeta”. O consumo exacerbado da América do Norte está relacionado com quase todos os problemas ambientais e sociais que nós hoje enfrentamos, da extinção de espécies aos buracos de ozônio e a perda do senso de comunidade. Devemos parar de poluir, parar de devastar florestas, parar com a queima desnecessária de combustíveis fósseis. Isso significa que devemos parar de consumir como uma forma de preencher o tempo, satisfazer nossas necessidades afetivas e por admiração, e devemos manter nossas relações com outras pessoas.

Onde está uma solução com a qual consigamos conviver? Devemos agora apertar o cinto? Ficar sem? Dar um jeito? Nos despedir de nossos confortos? Não. Existe uma solução mais suave e amistosa para o nosso abuso dos recursos da terra, e para a nossa busca interminável por pastagens mais verdes. É saber quando o basta, basta.

E se, a cada ato de compra, nos perguntássemos “Será que este produto vai me trazer satisfação proporcional à quantidade de energia da minha vida que estou gastando para obtê-lo?” Se você ganha $10/hora, uma blusa de seda pode custar um dia da sua vida. Talvez valha a pena se você usa bastante a blusa, até ela acabar. Mas se ela fica pendurada no seu guarda-roupa, é muito delicada para se usar, o quociente de satisfação é bastante baixo. Examine suas possessões atuais. Quantas passam o teste de satisfação? Nossas garagens, guarda-roupas, sótãos e porões estão cheios de itens sem uso, ou pouco usados, que não nos dão nenhum prazer, e de fato nos custa dinheiro para armazenar e segurar. Todas essas coisas representam horas desperdiçadas de nossas vidas e recursos globais jogados fora. Cada dólar desperdiçado representa meio litro de petróleo desnecessariamente extraído e queimado – ou seja, a energia consumida em transformar um pedaço do planeta num pedaço de porcaria do seu porão. Faça uma venda. Compartilhe a riqueza. Reduza àquilo que lhe traz satisfação, e nada mais. Logo você vai atingir o ponto mágico do “bastante”.

Por que é que apertar o cinto é uma vitória para os que fazem regime e um anátema para os consumidores? Por que cultuamos corpos esbeltos e carteiras gordas? Por que nós nos expressamos através daquilo que compramos e que possuímos, ao invés do que somos e o que temos a oferecer? Talvez, se conseguíssemos reduzir nosso consume ao que nos é realmente útil – o que é suficiente, mas não mais do que isso – não nos sentiríamos privados, e sim em boa forma física.

O que vai custar aos Estados Unidos liderar o caminho para um futuro sustentável? Custará trazer a tona discussões sobre o dinheiro e consumo. Custará entrar em diálogos e debates ativos sobre o que é suficiente. Custará desbancar mitos consagrados como “quanto mais, melhor” e “quanto mais alto o padrão de vida, maior é a qualidade de vida”. Quando você se tornar mais um produtor de felicidade e menos um consumidor de coisas, melhor para todos nós. Esse é o tom mais profundo do não-consumo verde.

* Vicki Robin é uma das fundadoras do movimento Simplicidade Volutária e autora do livro “Seu dinheiro ou sua vida”.

Publicado no site Mercado Ético em 20/07/07
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