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03.12.10 às 15:07

O consumo consciente passou a fazer parte do imaginário das pessoas”, diz Helio Mattar

Diretor presidente do Akatu dá entrevista sobre os cinco anos do Instituto e fala sobre os desafios da sociedade para atingir a sustentabilidade
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A causa do consumo consciente no Brasil tem nome e sobrenome: Helio Mattar. À frente do Instituto Akatu desde a sua criação, em 2001,  o diretor presidente faz um balanço dos cinco anos da instituição e revela os desafios da sociedade para atingir a sustentabilidade.

Cinco anos de Akatu – A “semente boa” plantada em 2001 encontrou espaço para crescer e contribuir para um “mundo melhor”?

Quando plantamos a”semente boa” [um dos significados da palavra Akatu, em Tupi] em 2001, ao criar o Instituto Akatu, o termo “consumo consciente” praticamente inexistia. Havia a sensibilidade das pessoas sobre os problemas sociais e ambientais e sua relação com o consumo. Mas essa sensibilidade esbarrava numa espécie de perplexidade. As pessoas não tinham consciência do seu poder transformador. E assim, não podiam cumprir o papel de usar o seu consumo para criar um “mundo melhor” [o outro significado da palavra Akatu, também em Tupi].

Nesses cinco anos de atuação do Akatu, o consumo consciente passou a fazer parte do imaginário das pessoas e da agenda da mídia. Isso é uma mudança cultural que não pode ser desprezada nem minimizada. O consumidor está saindo da posição de espectador para a ação.

O momento – Quais os desafios prioritários do Instituto Akatu daqui em diante?

O objetivo prioritário do Akatu, a partir de agora, é disseminar a mensagem do consumo consciente de modo a expandir em escala os seus impactos. Em relação à educação para o consumo, seja em comunidades ou em escolas, nossa ênfase atual está em sistematizar métodos, processos e conteúdos para facilitar o crescimento em escala da nossa causa. Já no âmbito da comunicação, nossa intenção é chegar mais diretamente aos formadores de opinião, como autores de telenovela, artistas, profissionais da mídia impressa, televisão e rádio. É essencial que todos tenham acesso aos princípios do consumo consciente.

Dia Mundial do Consumidor – Por quais motivos o consumidor merece receber os parabéns nesse dia? Em quais aspectos é possível melhorar?

Uma pesquisa feita pelo Akatu no final de 2005 revela que o consumidor brasileiro está percebendo o poder que tem o ato de consumo, tanto na escolha de empresas, produtos ou serviços, como no uso dos recursos naturais. Ele desenvolveu essa percepção. Mais de 80% dos consumidores acham que as empresas têm que respeitar o meio ambiente e adotar critérios sociais em seu processo produtivo. Isto é, o consumidor aprendeu a levar em conta outros aspectos na hora de escolher um produto ou serviço, não apenas qualidade e preço.

O desafio agora é que este poder seja exercido de forma cotidiana, Exceto para aqueles consumidores que estão em um estágio mais elevado de consciência no consumo, este poder é exercido de forma mais reativa do que ativa. Levar isso para o dia-a-dia do consumidor é um desafio extraordinário. Precisamos criar uma massa crítica que dissemine esse tipo de atitude.

RSE – As empresas estão cumprindo sua responsabilidade social? Como aderir à causa do consumo consciente sem abandonar seus objetivos de lucro?

A responsabilidade social empresarial (RSE) no Brasil ainda não é homogênea. Algumas empresas brasileiras caminharam muito nessa direção, mas ainda é uma minoria. O Akatu tem convicção de que o consumidor consciente provoca uma mudança nos atributos competitivos no mercado. Cada vez mais as empresas vão encontrar em suas posturas em relação às questões ambientais e sociais uma oportunidade de diferenciação no mercado. A própria ética de muitos acionistas e empresários já aponta para o caminho da responsabilidade social empresarial. Mas para que haja um crescimento em escala da RSE, é preciso que haja também, por parte do consumidor, o reconhecimento da responsabilidade social e ambiental empresarial. O consumidor precisa estar atento a isso na hora de comprar.

Não há nenhuma contradição entre responsabilidade social empresarial e busca por lucro. Ao contrário, na medida em que o consumidor está mais atento a esse aspecto, ele vai dar preferência a essas empresas. Quanto mais a empresa se desenvolve nesse sentido, mais ela ganhará mercado e, portanto, maiores as oportunidades de aumento de seu lucro.

Um indício disso é o que vem ocorrendo na bolsa de valores de Nova Iorque. O valor das ações das empresas constantes do Dow Jones Sustainability Index, índice criado em 1999 e que reúne empresas que adotam práticas sustentáveis, tem alcançado valorização muito acima das ações do Standard & Poors 500. A sustentabilidade será cada vez mais valorizada pelo consumidor.

Pode-se esperar que, aqui no Brasil, as ações que compõem o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) venham a seguir este mesmo caminho.

Eleições 2006 – O que o eleitor consciente deve observar nas propostas dos candidatos antes de definir seu voto?

Em 2006, o consumidor terá mais uma oportunidade de exercer seu poder de escolha, privilegiando candidatos que tenham propostas que busquem a sustentabilidade. Deve ser observado, por exemplo, se o candidato prevê investimento na melhoria do transporte público, para que as pessoas possam diminuir o uso do carro. Os veículos particulares são um dos maiores responsáveis pela emissão de gases poluentes na atmosfera e, consequentemente, pelo aquecimento global.

Outros pontos devem ser levados em conta pelo eleitos na hora de escolher seu candidato: apoio ao desenvolvimento de tecnologias limpas de geração de energia, como eólica e solar; incentivo à exploração econômica sustentável da biodiversidade brasileira; viabilização de programas de coleta seletiva e reciclagem em larga escala e aprovação da Política Nacional de Resíduos, que está parada na Câmara dos Deputados; melhora da infra-estrutura de escoamento e distribuição da produção de alimentos (estradas, centrais de armazenamento e refrigeração, modernização dos portos), para diminuir o desperdício que, hoje, é mais de 20% até chegar ao consumidor; projetos que visem à educação para mobilização do consumidor, entre outros.

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