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26.04.18 às 14:20

Moda consciente: o que fazer quando uma peça de roupa chega ao final de sua vida útil?

O consumo consciente passa pela responsabilidade de fazer a destinação correta de um produto após o seu uso. No caso das roupas, a tarefa é difícil – mas alguns cuidados ajudam a reduzir os impactos; veja as dicas a seguir.

O que fazer com aquela blusa que não serve mais, a calça que rasgou ou as meias furadas e desgastadas? Não caia na besteira de simplesmente colocar a peça na cesta de lixo, pois esse gesto corriqueiro traz um impacto ao meio ambiente e à sociedade.

No Brasil, estima-se que são geradas 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano, sendo que 80% delas vão parar em lixões e aterros segundo dados divulgados pelo Sebrae. A decomposição de tecidos é um processo que pode levar meses, no caso das fibras naturais (algodão, linho, seda e lã), ou até centenas de anos, no caso das sintéticas (poliéster e derivados do petróleo), explica Francisca Dantas Mendes, vice-coordenadora do curso de graduação Têxtil e Moda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Além de contaminar o solo e os lençóis freáticos, esses resíduos soltam gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global e das mudanças climáticas. A gestão deste enorme volume de resíduos também exige investimentos públicos, pelos quais todos pagam.

Por isso, quando você não quiser mais uma peça de roupa ou acessório, faça a seguinte avaliação:

– Verifique se é possível reformar ou consertar essas peças para aumentar seu tempo de uso.

– Se ainda estiverem em bom estado e você não quiser mais ficar com elas, opte por revendê-las ou doar os itens.

– Caso estejam em péssimas condições, transforme-as em outras coisas: uma camiseta pode virar pano de chão ou uma estampa florida pode ser adaptada para um enfeite de tiara. Aqui vale a criatividade.

Caso você não encontre nenhuma solução entre as opções acima, o ideal seria destinar a peça à reciclagem – um processo em que o tecido é transformado em fios, que depois podem servir de matéria-prima para a fabricação de novos produtos. Mas, no Brasil, ainda há poucas iniciativas, que estão longe de conseguir suprir a necessidade gerada pelo consumo e descarte excessivos de roupas “O processo de reciclagem têxtil é muito trabalhoso, principalmente se o tecido for misto, pois não é fácil separar as fibras naturais das artificiais”, afirma a especialista Francisca Mendes. Por isso é que, na maioria dos postos de coleta de resíduos, não há a opção para tecidos.

Para onde levar?
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), os consumidores são responsáveis por descartar de forma sustentável os itens que adquiriram, como roupas e sapatos. Mas a PNRS também responsabiliza as empresas pelo pós-consumo de seus produtos, sejam fabricantes ou lojas. É a chamada “logística reversa”.

Algumas empresas ligadas à área têxtil têm programas de coleta de peças para reciclagem. Uma delas é a cadeia internacional de lojas C&A, que tem o projeto Movimento Reciclo. Como funciona? O consumidor leva suas roupas (compradas ou não na rede) até uma das 31 lojas (em 18 cidades) e as deposita em caixas de coleta. É feita uma triagem. “As peças que ainda têm condições de reuso são destinadas para o Centro Social Carisma, em Osasco (SP), e as que precisam ser recicladas são encaminhadas para o projeto Retalhar”, explica Rozália Del Gaudio, gerente sênior de Sustentabilidade e Comunicação da C&A no Brasil.

A Retalhar não recebe apenas peças da C&A, mas também é parceira de outras 30 empresas, como FedEx, Itaú, TAM, Gol e Leroy Merlin. A maioria dessas companhias encaminha uniformes usados em suas operações. Essas roupas passam por um processo em que o tecido é desfibrado, tornando-se matéria-prima para outras aplicações. A partir daí a Retalhar destina esse material para a indústria automobilística e de construção civil, ou então para cooperativas de costureiras. “Já passamos da marca de 41 toneladas, o que equivale a mais de 130 mil peças que ganharam vida nova ao invés de gerarem poluição em aterros”, afirma Jonas Lessa, proprietário da Retalhar. A empresa não recebe doações de pessoas físicas.

Meias furadas, rasgadas, sem par podem ser destinadas para pontos de coleta da campanha Meias do Bem, criada pela empresa Puket. As peças são recicladas na própria fábrica da Puket e transformadas em cobertores e meias, destinadas a instituições sociais. Desde 2013, a campanha já reciclou 15 toneladas de resíduos têxteis que viraram 30 mil itens, que ajudaram a esquentar muitas pessoas em noites de frio.

Outra empresa que também aplica a logística reversa é a Havaianas. Os consumidores podem devolver seus antigos chinelos em uma das lojas da marca ou em suas franquias. Esses calçados são transformados em tapetes para playground, que são doados a projetos sociais. A reciclagem também está na cadeia de produção das sandálias. Durante o processo de fabricação, 85% do resíduo são reciclados e o restante é destinado a outras indústrias para reaproveitamento.

Aqui vale uma sugestão de consumo consciente: se você pretende se desfazer de uma peça usada, entre em contato com o fabricante para saber se é possível devolvê-la para que seja descartada da forma correta (para reuso ou reciclagem). É importante que os consumidores sinalizem às empresas que tem essa preocupação e as influenciem s a passarem a receber de volta esse material

Tecido: moeda de troca
Logística reversa não é a única opção para o consumidor. Se você tem sobras de panos que ainda não foram usadas (por exemplo, retalhos que sobraram de uma cortina ou toalha de mesa que você mesma fez), não as jogue fora! Elas podem valer muito! Leve-as ao Banco de Tecidos. Idealizado pela figurinista Lu Bueno, o projeto funciona como uma espécie de “banco”. A moeda de troca é o tecido de reuso. Para participar, basta você levar suas peças para uma avaliação. É aceito quase todo tipo. Depois de pesadas e organizadas, elas ficam à disposição para o “saque” e você recebe em créditos por quilo depositado. Depois, você pode sacar outros tecidos em troca ou comprar a quantidade que você precisa. Há unidades em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

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