A qualidade, o acesso e as consequências socioambientais da locomoção nas cidades como escolha de consumo foram os principais temas de discussão de uma das mesas do evento “Automóvel e Consumo – Mobilidade, Emissões e Eficiência Energética”, promovido pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) em parceria com o IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente) em São Paulo no dia 26 de fevereiro, com o apoio da Climate Works Foundation.
“Calçada é mobilidade urbana, transporte a pé é mobilidade urbana”, comentou João Alencar, gerente de projetos da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana (Semob), ressaltando que a eficácia e eficiência da mobilidade devem ser reconhecidas no conjunto de deslocamentos que ocorrem em determinada região. Para o especialista, a mobilidade deveria ser considerada direito social, pois determina o acesso a serviços e atividades básicas para o cidadão, como ir ao hospital ou trabalhar. E, sem ela, estes próprios direitos estariam comprometidos. “Precisaremos “sãopaulizar” nossas cidades para depois descobrir que não é isso que queríamos?”, provoca, refletindo sobre alternativas ao modelo de urbanização e mobilidade prevalente nos grandes centros urbanos no Brasil.
Cidades para carros X cidades para o transporte
Já Renato Boareto, do IEMA, abordou os impactos dos meios de transporte na qualidade do ar, chamando a atenção para a excessiva importância dada a soluções com foco em opções motorizadas individuais – em especial, o carro. Para ele, as obras e o planejamento urbano de transporte deveriam se voltar mais para a mobilidade como um todo, em vez de se concentrarem, de forma preponderante, na mitigação e fluidez do trânsito. “Não podemos pensar como se todo mundo fosse ter automóvel um dia. Cidades que seguiram este exemplo se tornaram insustentáveis”, alerta. O foco no transporte individualizado ou nos avanços tecnológicos dos carros e combustíveis segue a mesma lógica: “o desafio não é somente técnico”.
O impacto das escolhas
Marcos Bicalho, assessor técnico da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) ressaltou que na estrutura de mobilidade atual, critérios como o custo e o tempo dos deslocamentos na cidade ainda levam o consumidor a fazer escolhas com maiores impactos socioambientais. Segundo Paulo Saldiva, médico e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP, a poluição ainda é responsável por 7 mil mortes por ano na região metropolitana de São Paulo e compromete a expectativa de vida em até 2,5 anos. “Em 2030 mais pessoas morrerão no mundo por conta da poluição do que por causa da malária”, exemplificou.
Os especialistas foram unânimes quanto à necessidade de melhora na mobilidade das cidades, de forma integrada, multimodal, acessível e inteligente. Alternativas como a priorização de não motorizados, meios coletivos de transporte e modelos de integração facilitada entre diferentes modais ao longo do território (bicicleta, táxi, metrô, trem, ônibus, veículos compartilhados, etc.), foram as mais bem avaliadas pelos participantes do debate.