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04.12.10 às 11:34

Mercado imobiliário: como distinguir o verde das outras cores

Muito se fala sobre construção sustentável, mas ainda é difícil encontrar empreendimentos ambientalmente corretos
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Quem abre os cadernos de classificados dos grandes jornais em busca de imóveis ambientalmente corretos vai encontrar um grande volume de ofertas oferecendo áreas verdes e parques próximos ao condomínio, e uma enorme variedade de áreas de lazer e serviços. Mas será que isso representa, de fato, cuidado com o meio ambiente e preocupação com a sustentabilidade? Na verdade muito pouco ou quase nada. A proximidade de parques facilita o contato com a natureza, mas isso não quer dizer que a construção e o funcionamento dos edifícios levem em consideração  critérios ambientais. Para ser, de fato, um “edifício verde” é preciso muito mais.

O conceito de construções verdes e sustentáveis, conhecido por sua denominação em língua inglesa, green building, ou seja, edifício ou construção verde, surgiu nos Estados Unidos e já chegou à Europa e Ásia. A idéia principal é que essas edificações agridam o mínimo possível o meio ambiente desde os materiais usados durante a construção até os custos ambientais de manutenção do edifício.

Existe uma certificação criada pelo Conselho Norte-Americano de Construção Verde (United States Green Building Council) para garantir que o imóvel foi construído e funciona de modo ambientalmente correto. Trata-se de um selo chamadoLEED, da sigla em inglês Liderança em Design Ambiental e Energético(Leadership in Energy and Environmental Design). O selo passou a ser uma norma reconhecida internacionalmente a partir de 2004 e começa a aparecer também por aqui.

A diretoria da Sustentax, empresa responsável pela certificação do Green Building da LEED no Brasil, conta que a procura pelo selo está crescendo muito. “No segundo semestre deste ano, o crescimento foi de 100% em relação a 2006”, informa Paola Figueiredo sem revelar os números. A Sustentax já concedeu diversas pré-qualificações, mas a própria empresa informa que, para a obtenção definitiva do selo, o caminho é longo e as exigências devem ser seguidas até o final do processo.

O primeiro edifício residencial a receber a pré-certificação Green Building da LEED foi o Ecolife Independência, localizado no bairro do Ipiranga em São Paulo, lançado no último mês de setembro pelo Grupo Esfera. O certificado definitivo do Green Building  só será entregue seis meses após o habite-se do empreendimento, quando será analisado o funcionamento de todos os diferenciais implantados.

O condomínio apresenta 13 diferenciais ecológicos para proporcionar melhor uso dos recursos naturais durante a vida útil do empreendimento, nove voltados para sustentabilidade e cinco para qualidade de vida. São eles:

1) pomar e herbário

2) coleta de lixo seletiva

3) sensores de presença

4) reuso de água

5) captação de água pluvial

6) água filtrada em todos os pontos de consumo

7) aquecimento de chuveiros a gás

8) medidores individuais de consumo de gás e de água

9) janelas dos dormitórios com persianas

10) churrasqueira limpa sem o uso de carvão vegetal

11) elevador com cabine ecológica e motor de alta performance

12) placas de captação de energia solar

13) pré aquecimento de água com placa solar.

Para se ter uma idéia da dificuldade em na obtenção do selo definitivo, em toda a América Latina existe apenas uma construção contemplada com o Green Building da LEED. É uma agência do Banco Real, Parceiro Pioneiro do Akatu, no bairro da Granja Viana, em São Paulo. O prédio recebeu o selo em junho de 2007. A lista de itens para que a agência conseguisse a certificação demonstra que é necessário cumprir com requisitos bastante criteriosos para fazer parte desse seleto grupo (ver boxe). Depois dessa experiência, o banco decidiu desenvolver um programa especialmente para privilegiar o financiamento de edifícios verdes.

Além de respeito ao meio ambiente, os edifícios verdes também oferecem economia financeira para quem mora neles. Devido, entre outros fatores, ao menor consumo de energia e água na manutenção dos prédios, os valores das taxas condominiais são, em média, 20% a 25% mais baratas do que as dos prédios convencionais, relata Paola, da Sustentax. Isso compensa rapidamente o preço dos imóveis, que costuma ser cerca de 5% a 10% mais caro do que os demais, conforme informou a edição de 12 de setembro deste ano da revista Isto É Dinheiro. O investimento também é recuperado na hora da venda. “O poder de revenda de um imóvel que consome menos é muito maior do que um convencional”, declara Marcelo Valdrighi, gerente de estudos de mercado da área de crédito imobiliário do Banco Real.

Especialistas do setor imobiliário são unânimes em concluir que o futuro da construção civil passa necessariamente por projetos que impactem menos o meio ambiente. Mas até que a tendência se estabeleça definitivamente, o consumidor pode ter dificuldades para identificar quais as construções que merecem ser chamadas de “verdes”.

Para não se perder em meio ao mar de anúncios com apelo ecológico, aqui vão algumas dicas.

O que é importante verificar
O consumidor que busca reduzir seus impactos sobre o meio ambiente tem uma grande chance de trilhar com eficiência o caminho da sustentabilidade se fizer uma boa reflexão sobre como e onde mora ou onde vai morar. Os itens abaixo foram selecionados tendo em vista diversos mecanismos que podem contribuir para transformar uma casa num ambiente mais sustentável. Alguns deles podem depender apenas do próprio morador. Em outros, deve-se discutir no condomínio e, se for o caso de se estar na procura de um imóvel, deve-se indagar quais desses itens estão presentes no empreendimento.

Energia
Ás áreas comuns devem dispor de iluminação inteligente com sensores de presença que poupam energia;

O imóvel deve apresentar aproveitamento máximo da iluminação natural, por meio de janelas amplas, reduzindo o uso de iluminação artificial;

Deve ter coletores solares térmicos ou painéis solares fotovoltaicos que captam a luz do Sol e a transformam em calor, poupando até 70% da energia necessária para o aquecimento de água;

O imóvel deve ter vidros especiais nas janelas, que bloqueiam parte dos raios infravermelhos e melhoram o desempenho do ar-condicionado sem prejudicar a iluminação;

Água
Todas as unidades devem ter conta de água individual para que as pessoas possam controlar seu consumo de água.

O empreendimento deve fazer a coleta e armazenagem da água de chuva para reuso do condomínio na lavagem de fachadas e áreas comuns do edifício, e para regar as plantas;

As unidades devem dispor de sistema de descarga duplo (dual flush) com acionamento separado para rejeitos sólidos e líquidos;

As louças sanitárias devem ser de modelos que funcionem com pouca água, devendo ter sistemas de regulagem do fluxo de água nas torneiras;

Lixo
O condomínio deve fazer coleta seletiva de lixo e encaminhamento do material para cooperativa de catadores ou para o serviço público que não misture o lixo;

Qualidade de vida
A ventilação deve ser uma preocupação importante. Uma edificação com ventilação insuficiente poderá reter umidade do ar afetando o conforto e até mesmo a saúde dos habitantes. Todos os ambientes devem ser bem ventilados.

O que deve ser considerado na fase da construção
– Utilização de sobras de fabricação de aço;

– Utilização de cimento CP III, que emite até 70% menos CO2 que os convencionais;

– Uso de madeira certificado em 100% da obra;

– Uso de cores claras nas fachadas que não absorvem tanto calor como as mais escuras; uma fachada branca absorve só 25% do calor do sol enquanto que a mesma fachada na cor preta pode absorver até 90% do calor;

– Entulhos da obra devem ser enviados para reciclagem.

Seguindo esses critérios, o consumidor terá certeza de estar morando de um modo mais correto ambientalmente e de estar contribuindo cotidianamente para a construção da sustentabilidade. Vale lembrar que o impacto do setor da construção civil responde pelo “consumo” de 40% dos recursos naturais do planeta, considerando desde a produção de insumos (cimento, tinta, aço, tijolo e madeira por exemplo) até o transporte e a armazenagem dos entulhos resultantes da obra.

Construção “verde” está mais avançada nos imóveis comerciais
Os empreendimentos comerciais estão na frente na corrida rumo à construção sustentável. Nas grandes cidades brasileiras, já há exemplos representativos dessa tendência. Em São Paulo, há o conjunto de quatro torres batizado de Rochaverá Corporate Towers, já inaugurado. E no Rio de Janeiro, estão as duas torres do Ventura Corporate Towers, com previsão de entrega em 2008. Ambos os projetos, da incorporadora Tishman Speyer, consumiram 1 bilhão de reais e são dotados de mecanismos sustentáveis, tais como sistema de armazenagem de água da chuva e da condensação do ar-condicionado. Essa água será usada para regar os jardins e nos vasos sanitários, que terão descarga dupla para resíduos sólidos e líquidos. Os prédios têm fachada com vidros que reduzem o aquecimento interno, sem comprometer a iluminação. No que se refere aos impactos de sua construção, cerca de 80% da madeira usada veio de área certificada ou de reflorestamento.

A única edificação na América Latina que conquistou o selo de Green Building da LEED, como já informado na reportagem, é uma agência do Banco Real, Parceiro Pioneiro do Akatu, em São Paulo. Para obter a certificação, ela atendeu aos seguintes critérios, entre outros:

Sustentabilidade do espaço
– 25,5% do terreno da agência são áreas verdes;
– Vaga de estacionamento preferencial para transporte solidário e para veículos com baixa emissão ou consumo eficiente;
– Foram utilizados materiais e equipamentos sem CFC e HCFC, elementos que  contribuem para a destruição da camada de ozônio e para o aquecimento global.

Racionalização do uso de água
– 100% da água para irrigação das áreas verdes provem de reaproveitamento e tratamento;

– O consumo de água potável da agência foi reduzido em 85% em função das medidas de racionalização, reaproveitamento e captação de águas de chuva, e das torneiras com sensores e bacias sanitárias de alta eficiência com duplo fluxo de funcionamento;

Eficiência energética
– Redução do calor proveniente de áreas não cobertas. O projeto combinou áreas sombreadas com materiais de alta refletância solar, reduzindo em 84% o calor proveniente de áreas não cobertas, resultando em uma eficiência energética 15% superior a um projeto convencional;

– Os sensores de presença desligam a iluminação após desocupação do ambiente;

– Utilização de painéis fotovoltaicos;

– Redução das necessidades de iluminação artificial devido à iluminação natural.

Sustentabilidade dos materiais
– Minimização de resíduos – 77% do lixo e do entulho da construção foram reutilizados e reciclados a fim de ampliar a vida útil de aterros sanitários diminuindo o impacto sobre o meio ambiente;

– Separação, armazenamento e coleta de materiais recicláveis na agência, desde a fase da construção;

– 72% da madeira utilizada foram certificadas pelo FSC (Forest Stewardship Council);

– 59% dos materiais utilizados na construção tiveram origem em um raio de menos de 800 km, exigindo menor transporte e, consequentemente, reduzindo a poluição, o desgaste de rodovias e pneus e a utilização de combustíveis fósseis;

– 17% de todos os materiais empregados são de rápida renovação na natureza (10 anos ou menos);

Qualidade ambiental externa
– Os materiais utilizados possuem baixo índice de COVs (compostos orgânicos voláteis). Não foram empregados anti-corrosivos e anti-ferruginosos, preservando a saúde de funcionários da obra e dos ocupantes da agência;

– Ventilação Adicional – o número de trocas de ar dentro da agência é 30% maior que o mínimo estabelecido em norma visando diminuir problemas respiratórios, alérgicos e uma menor disseminação de gripes;

– 78% dos ambientes internos da agência têm acesso à iluminação natural e vista externa.

Além de manter esta agência, o Banco Real criou o Programa de Sustentabilidade da Construção, uma linha de crédito para a construção civil que quer incentivar os integrantes da cadeia produtiva a aderirem aos critérios da sustentabilidade. As obras passam por um processo de análise e as que se adequarem aos princípios de sustentabilidade determinados pelo banco, recebem a placa “Real Obra Sustentável”. Isso não interfere na concessão ou não o empréstimo. “Nossa idéia é difundir esse conceito por meio da informação e do convencimento dos principais agentes desse mercado”, diz Marcelo Valdrighi, gerente de estudos de mercado da área de crédito imobiliário do Banco Real.

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