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28.12.10 às 11:49

Mais comida e menos impacto ambiental com uma dieta vegetariana

Consumo de carne e de produtos animais aumenta a pressão sobre os recursos naturais
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As cadeias alimentares sobrepõem-se como parte do ciclo da vida na Terra. Quando morre um ser vivo, as bactérias o decompõem em substâncias orgânicas e inorgânicas, usadas pelos vegetais para alimentar-se. Há perdas energéticas significativas quando se passa de um para outro nível na cadeia alimentar. A ecologia energética ensina que cadeias alimentares são as transferências de energia alimentar desde os produtores básicos — as plantas, para os animais herbívoros (consumidores primários) —, até os animais carnívoros que se alimentam dos herbívoros. O homem está entre as espécies que absorvem energia de vários desses elos da cadeia alimentar.

Como grande parte da energia é degradada a cada transferência de um nível para outro, quanto maior a cadeia alimentar, menor será a energia disponível. Assim, os estudos de ecologia energética revelam a superioridade dos produtos de origem vegetal sobre os de origem animal, em termos de produtividade energética. Daí decorrem as conseqüências ambientais de diferentes dietas alimentares.

A demanda por alimentos que se encontram no alto da cadeia alimentar —constituídos pelos produtos de origem animal — consome grande quantidade de terra, água, recursos naturais e defensivos agrícolas; motiva os fazendeiros a expandir as áreas destinadas a pastagens, provoca a destruição de florestas e perdas de solo fértil. Assim, quanto maior o consumo de carne e de produtos animais, que se encontram no topo da cadeia alimentar, maior a pressão sobre os recursos naturais.

A dieta alimentar baseada em proteínas animais, quando comparada a dietas baseadas em grãos, hortaliças e proteína vegetal, tem elevado custo energético e sua produtividade energética é baixa. Se o produto é usado para o consumo alimentar humano direto, há menores perdas energéticas; se, entretanto, é usado para alimentar animais, que por sua vez servirão de alimentos para as populações humanas, ocorrem perdas energéticas substanciais. As dietas vegetarianas são poupadoras de espaço, dos recursos naturais e do meio ambiente, conseguindo, com baixo uso de recursos naturais, um alto rendimento energético alimentar dessas populações. Eminentes cientistas ocidentais, como o biólogo Paul Erlich, afirmam que “a capacidade de suporte do planeta seria aumentada se todos se tornassem predominantemente vegetarianos”.

Várias sociedades regularam suas dietas como estratégia para não romper a capacidade de suporte do seu território e reduzir os riscos de colapso da sociedade. A Índia é uma das mais conhecidas, com o vegetarianismo e a sacralização dos animais. Jared Diamond relata o caso da ilha de Tikopia, no Pacífico Sul, com 4,7km2 e densidade de 309 pessoas por quilômetro quadrado, continuamente habitada há quase 3000 anos. Uma das estratégias para garantir a capacidade de sustentação do ambiente foi a mudança de hábitos alimentares, eliminando aqueles que implicam competição pelo uso da terra.

Uma decisão significativa tomada conscientemente por volta de 1.600 d.C, e registrada pela tradição oral, mas também atestada arqueologicamente, foi a matança de todos os porcos da ilha, substituídos como fonte de proteína pelo aumento do consumo de peixe, moluscos e tartarugas.

Isso nos ensina uma lição importante num contexto de crise alimentar. Uma dieta alimentar ecologizada e que garanta o alimento à população humana precisa basear-se em padrões de consumo alimentar e energético que não pressionem excessivamente a capacidade de suporte do planeta e que não esgotem as fontes de sustento. Ecologizar a dieta alimentar será de grande relevância para modificar as demandas por alimentos na direção daqueles que provoquem menores impactos ambientais. Na ecoalfabetização dos cidadãos, é crucial conhecer a ecologia energética e aplicar seus conhecimentos.

*Maurício Andrés Ribeiro é arquiteto e autor de “Ecologizar — Pensando o ambiente humano” e “Tesouros da Índia para a civilização sustentável”

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