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15.10.15 às 15:11

Laços afetivos são estímulo para práticas sustentáveis

Lançado no Dia do Consumo Consciente (15/10), estudo mostra que há mais adesão a práticas sustentáveis quando há coesão no grupo como na família e na escola

A necessidade de mudar o jeito de viver para garantir o suficiente, para todos, para sempre define o maior desafio da atuação do Instituto Akatu, que em parceria com outros atores da sociedade busca promover a mudança de comportamento das pessoas, com escala e velocidade, para que adotem estilos sustentáveis de vida. Mas o que acelera essa mudança? E o que a dificulta? Estas perguntas nortearam a realização da pesquisa qualitativa inédita “Caminhos para Estilos Sustentáveis de Vida”, lançada na quinta-feira (15/10), Dia do Consumo Consciente.

“Verificamos pela análise das práticas que cada pessoa não se encaixa necessariamente em um único perfil. Dependendo do tema ela pode assumir comportamentos que se encaixam em perfis diferentes”, afirma Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu. Ou seja, a mesma pessoa pode ter comportamentos mais engajados, por exemplo, no trato da água e não ter o mesmo cuidado no que se refere ao desperdício de alimentos. “Além disso, a permeabilidade à adoção de práticas sustentáveis não parece estar relacionada a ser mais jovem ou mais velho, rico ou pobre, homem ou mulher, mas sim à crença em uma visão de mundo que se traduz em práticas sustentáveis no cotidiano. São os valores adotados e compartilhados por essas pessoas que provocam a mudança. Outra conclusão a que chegamos pelo levantamento é que o maior engajamento em práticas sustentáveis acontece onde existe coesão entre o grupo, como ocorre nos núcleos afetivos da família, na escola e entre amigos, especialmente se há figuras inspiradoras daqueles comportamentos e dos valores que a eles correspondem”, analisa Mattar.

O levantamento desvendou gatilhos e barreiras para a mudança de comportamento do consumidor na direção da adoção de práticas sustentáveis. Para isso, foram investigadas as práticas cotidianas de consumidores na compra, uso e descarte de produtos em quatro temas: alimentação, roupas, higiene e cuidados pessoais e limpeza da casa. Adicionalmente, hábitos relacionados ao uso de água e energia e à destinação de resíduos foram mapeados transversalmente.

A pesquisa identificou a existência de um espectro de práticas sustentáveis, dentro do qual o perfil das pessoas oscila entre os “Desligados”, aqueles que não adotam nenhuma prática, e os “Engajados”, que as adotam em diferentes graus. As descobertas foram feitas a partir da análise dos discursos e dos perfis envolvidos.

“Separar o lixo” foi identificada como sendo frequentemente a primeira prática sustentável das pessoas. A sua adoção é um bom indicador de que há disposição de ampliar as atitudes sustentáveis, havendo maior facilidade para introduzir outras práticas. Esse indicador pode ser usado para identificar grupos de consumidores com maior potencial para as mudanças de comportamento.

Foi detectado ainda que especialmente as pessoas de perfil mais desligado acabam mudando de comportamento, para não destoar do grupo (por norma social ou lei) ou por incentivo financeiro. A dificuldade de mudar hábitos consolidados há muito tempo também apareceu nos discursos, analisados, apenas corroborando uma percepção já reconhecida sobre alteração de comportamentos.

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A missão do Instituto Akatu é mobilizar a maior quantidade de atores possível – empresas, governos e sociedade civil – para a transformação de padrões de produção e consumo. “Partindo do princípio de que a oferta e o consumo de produtos e serviços podem ser viabilizadores de práticas sustentáveis, esta pesquisa cumpre a missão do Akatu ao fornecer insumos para que as empresas possam aprimorar suas estratégias de comunicação e também sugere caminhos para o desenvolvimento contínuo de produtos e serviços que contribuam com estilos de vida mais saudáveis e com a sustentabilidade da vida no planeta”, conclui Helio Mattar.

SOBRE A PESQUISA
A pesquisa “Caminhos para Estilos Sustentáveis de Vida” é de natureza qualitativa. Aliou técnicas combinadas de grupos focais e de laboratório criativo (discurso público) com entrevistas em profundidade no domicílio (discurso privado) na cidade de São Paulo. A composição da amostragem foi mista por gênero e perfil demográfico, englobou pessoas das classes A, B e C, acima de 15 anos, participantes ou responsáveis pelas decisões de compra para a casa, envolvendo 50% de “Engajados” e 50% de “Desligados” selecionados segundo o critério de adoção ou não de práticas sustentáveis nos temas: alimentação; consumo de água, energia elétrica e gás; geração e destinação de resíduos em casa e uso de combustível nos veículos da família.

BARREIRAS – O que dificulta a mudança
A partir da análise do discurso e da prática dos entrevistados foi possível concluir que são barreiras para a mudança de comportamento:

1.    Percepção de desconforto que as escolhas e práticas sustentáveis geram, na medida em que as pessoas tendem a permanecer na sua ‘zona de conforto’ e nas suas práticas habituais, evitando um eventual desconforto causado pela mudança.

2.    Obstáculos físicos encontrados em função de idade, saúde ou condição física, tornam mais difícil a adoção de práticas sustentáveis.

3.    Obstáculos para a adaptação do espaço em ambientes da casa e, em alguns casos, a falta de espaço pode tornar mais difícil a adoção de práticas sustentáveis.

4.    Preço mais alto. A crença de que o que é mais sustentável é mais caro – o que não é necessariamente verdade – atrapalha a mudança.

5.    Valorização da limpeza e higiene na cultura brasileira pode levar à resistência em adotar práticas que envolvam alteração na forma de uso (quantidade e frequência) e a redução do consumo de água, energia elétrica e produtos que atendem a essas finalidades.

6.    Percepção de impotência, isolamento e desconexão diante do tamanho dos problemas ambientais a serem resolvidos – com a sensação de que a atitude individual pode não impactar o todo.

GATILHOS – O que facilita a mudança
A pesquisa também indicou, a partir da análise do discurso e da prática dos entrevistados, gatilhos que disparam a mudança de comportamento nas pessoas, facilitando a opção por caminhos mais sustentáveis.

1.    Mudar é bom. A mudança é percebida como uma possibilidade de evolução, especialmente se for expressa como uma exemplaridade positiva.

2.    Simplicidade é a máxima sofisticação. Práticas sustentáveis podem ser simples de adotar e tornar a vida mais fácil, podendo ser até mais divertida.

3.    ‘Moeda’ de troca. Toda mudança envolve uma troca ou negociação: abre-se mão de alguma coisa e tem-se um ganho claro e perceptível. É preciso ficar claro o balanço positivo dos impactos reais derivados da mudança de comportamento.

4.    Bom para o bolso. A economia financeira é uma importante moeda de troca e, por si só, um poderoso gatilho.

5.    Praticidade e conforto. Produtos e serviços associados a práticas sustentáveis serão mais atraentes se deixarem claros a praticidade e o conforto na sua utilização.

6.    Toda viagem começa com o primeiro passo. Adotar apenas algumas práticas sustentáveis, mesmo que com pequenos resultados de cada uma, é melhor do que tentar fazer todas e desistir.

7.    Oportunidade de contribuição. Muitas pessoas querem contribuir para um mundo melhor, mas não sabem como. O engajamento individual e a percepção de que a mudança coletiva tem início na contribuição de cada um são oportunidades observadas na adoção de práticas sustentáveis.

8.    Experiência e vivência. A prática é mais inspiradora do que o discurso. As pessoas se motivam ao participar diretamente da criação da mudança e da vivência de seus impactos.

9.    Faço parte de algo maior. Entender que os praticantes são os protagonistas da mudança, que são parte de algo maior e estão interconectados com o coletivo facilita a adoção de práticas sustentáveis.

A pesquisa “Caminhos para Estilos Sustentáveis de Vida – Gatilhos e Barreiras para a Adoção de Práticas Sustentáveis” do Instituto Akatu foi patrocinada pelo Grupo Malwee, Natura, Nestlé e Unilever.

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