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24.12.10 às 0:33

Estudo afirma que é possível desenvolver sem desmatar

Pesquisa de economista da UFRJ conclui que a devastação de florestas não contribui necessariamente para o crescimento econômico
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Comentário Akatu: A sustentabilidade do meio ambiente está intimamente ligada à prosperidade econômica e à justiça social, para as gerações de agora e as vindouras. O consumidor consciente promove o equilíbrio entre esses valores quando compra apenas produtos que não são feitos com madeira de florestas nativas.

Grande parte dos setores industrial, do agronegócio e até do governo, como algumas áreas dos Ministérios da Agricultura e das Minas e Energia, têm defendido a idéia de que as leis e as políticas ambientais impedem (ou, no mínimo, prejudicam) o crescimento econômico. Reclamam do que consideram rigor excessivo das leis ambientais, que desestimularia a instalação de indústrias e impediria a derrubada de florestas para abrir espaço para a agropecuária. Mas um estudo recente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) procura mostrar que essa suposta incompatibilidade entre desenvolvimento e meio ambiente não existe.

O autor do trabalho, o economista Carlos Eduardo Frickmann Young, do Instituto de Economia da UFRJ, diz que há alguns mitos sobre essa incompatibilidade. Entre eles, são destacados os de que “o maior fator de pressão sobre o desmatamento é o crescimento demográfico nas áreas rurais” e “a derrubada da floresta é necessária para o crescimento econômico, a geração de emprego e a garantia de melhores condições de vida da população rural”.

Quanto ao primeiro, ele diz que não há uma relação automática entre crescimento populacional e desmatamento. “Se fosse assim, quando a taxa demográfica diminuísse haveria uma redução na perda de florestas”, explica. “Mas não é isso o que se observa. A população diminuiu, mas o desmatamento continua.”

Segundo Young, dados sobre a população rural do Sudeste e do Sul revelam o esvaziamento do campo. “Essa população vem diminuindo desde os anos 60 no Sudeste e desde os anos 70 no Sul”, diz. “A perda absoluta de população rural nos últimos 40 anos chegou a mais de 7,5 milhões de pessoas, mas o desmatamento em todos os Estados dessas duas regiões continuou crescendo nesse período.”

Os números apresentados pelo economista da UFRJ revelam que apenas de 1985 a 1995 a perda acumulada de floresta no Sudeste e no Sul chegou a mais 1 milhão de hectares. “Conclui-se, portanto, que o crescimento da população, por si só, não explica o declínio da mata atlântica”.

Quanto ao outro mito, o de que o desmatamento seria necessário para “gerar empregos e garantir melhores condições de vida à população que se instala nas áreas de floresta convertidas à agropecuária”, também não se sustenta, segundo Young. “Ainda tomando como base os Estados do Sul e do Sudeste, as estatísticas não comprovam essa relação”, diz. “Houve redução de 2,4 milhões de postos de trabalho na agropecuária dessas regiões entre 1985 e 1996, apesar do aumento de mais de 1 milhão de hectares de áreas desmatadas.”

Como a maior parte dos dados que embasam seu trabalho se refere às regiões Sul e Sudeste, Young admite que para o cerrado e a floresta amazônica sua análise pode, hoje, apresentar resultados diferentes, pois essas fronteiras ainda estão abertas. A longo prazo, no entanto, deve se repetir o que tem ocorrido ao longo da história do Brasil.

De acordo com ele, sempre houve no país a visão de que o desmatamento é inerente à ocupação territorial e ao modo de produção estabelecido no Brasil rural desde a era colonial. “Os ciclos econômicos históricos (pau-brasil, açúcar, gado, ouro e café) sempre se apoiaram no uso predatório de recursos naturais, com graves danos ambientais”, explica. “Eles não eram modelos econômicos sustentáveis.”

O mesmo vem ocorrendo na Amazônia e no cerrado. “Chama a atenção, por exemplo, a pouca demanda de mão-de-obra na atual expansão agrícola no Centro-Oeste”, diz o economista. “Também já se nota leve tendência de queda dos preços da soja em razão do excesso de oferta. Ou seja, após os ganhos extraordinários pela incorporação de áreas de fronteira agrícola, não há por que esperar resultados diferentes dos vistos nas demais regiões do país: êxodo rural e destruição contínua das áreas de vegetação nativa.”

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