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06.06.11 às 10:36

Demografia e padrões de consumo

Se a população emergente adotar os padrões de consumo (alimentar e não alimentar) existentes nos Estados Unidos será impossível preencher as necessidades de todos
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Seria muito mais fácil lidar com os limites que a resiliência dos ecossistemas impõem às sociedades humanas caso o horizonte demográfico não fosse de expansão tão intensa como se prevê hoje. Essa ideia costuma suscitar aversão pelo fato de evocar a lembrança de tentativas autoritárias e ineficientes de controle populacional, aplicadas em diversos países em desenvolvimento e no sul da Ásia em particular. O que hoje se sabe a respeito da transição demográfica é que a menor mortalidade de bebês e crianças pequenas é um dos determinantes decisivos da redução de fertilidade. A isso se acrescenta a educação das meninas e, de maneira geral, o aumento do poder de decisão das mulheres com relação a seu próprio corpo. O acesso à educação, aos serviços de saúde e a métodos modernos de contracepção auxilia a que a maternidade seja uma opção e não uma fatalidade ou, pior, o resultado de decisões que não são das próprias mulheres. Reduzir as taxas de fertilidade, sobretudo na África ao sul do Sahara onde elas ainda são altíssimas e quase sempre acima de 6 filhos por mulher, é um grande desafio das sociedades contemporâneas. Isso pode ser alcançado como resultado do próprio processo de desenvolvimento, ou seja, com a ampliação das possibilidades de escolha dos indivíduos sobre o rumo de suas vidas. No entanto, como mostra o professor Jeffrey Sachs ?o apoio financeiro dos Estados Unidos aos serviços de planejamento familiar em países de baixa renda foi tolhido nos últimos 25 anos pela direita religiosa americana, que criou obstáculos para o financiamento de serviços de planejamento, cortou o apoio ao Fundo de População da ONU e instituiu a chamada regra de proibição contra quaisquer organizações que tivessem recebido recursos de qualquer outra fonte para o aborto legal ou para aconselhamento sobre a opção do aborto (mesmo onde ele é legalizado)?. Investir em educação, melhorar a qualidade de vida, ampliar as liberdades dos indivíduos e o acesso aos serviços de saúde são os principais meios de se evitar a persistência do crescimento demográfico.

Mas é ilusório imaginar que uma reversão do horizonte de crescimento demográfico pode ter efeitos positivos, caso não sejam alterados os padrões de consumo contemporâneos. Entre 1998 e 2008, a quantidade de indivíduos vivendo com o corresponde a menos de US$ 2,75 por dia cai de 30% a 17% da população mundial. Em 2030, (ou seja, em apenas 20 anos) metade da população mundial terá uma renda entre US$ 6 mil e US$ 30 mil, muito mais que os 29% que estão nessa faixa de renda hoje.

Claro que isso é muito positivo. Mas se essa população emergente adotar os padrões de consumo (alimentar e não alimentar) existentes nos Estados Unidos será impossível preencher as necessidades de todos, mesmo com um extraordinário progresso técnico. E, portanto, se nos Estados Unidos e, de maneira geral, entre as populações mais ricas do mundo os padrões de consumo não se alterarem, não há como compatibilizar os ganhos recentes na renda dos pobres com a manutenção dos serviços básicos que os ecossistemas prestam às sociedades humanas.

O último relatório do Worldwatch Institute procura colocar o dedo nessa ferida ao estudar as bases culturais subjacentes aos padrões de consumo dominantes na atualidade. Uma das principais conclusões desse trabalho é que essas bases culturais não são imutáveis. Assim como a indústria agroalimentar mobiliza uma extraordinária máquina de poder e propaganda para difundir estilos de vida e formas de consumo insustentáveis e cada vez menos capazes de propiciar verdadeiramente bem-estar para os indivíduos, inúmeros movimentos sociais contemporâneos organizam-s em torno justamente da importância de se transformar a sociedade a partir de alterações nos padrões e no próprio sentido que o consumo representa na vida dos indivíduos.  No Brasil, o Instituto Akatu pelo consumo consciente e o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) são apenas dois, entre vários exemplos nessa direção.

 

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