loader image
01.12.10 às 0:01

Crescimento da frota ameaça esgotamento de trânsito e recursos

Brasil toma o quarto lugar da Alemanha em venda de carros; paulistanos perdem em média 15 horas por semana em congestionamentos
compartilhe
FacebookTwitterLinkedInWhatsAppEmailCopy Link

Quando o assunto é indústria e mercado automobilístico, os negócios no Brasil têm motivos de sobra para comemorar: entre janeiro e fevereiro de 2010, os brasileiros compraram 413 mil automóveis, atrás apenas de China, EUA e Japão, tirando a Alemanha do quarto lugar no consumo mundial de carros. Em março, o emplacamento de modelos importados cresceu mais de 60% no país. E mais, a China – a mais nova potência da indústria automobilística – está apostando forte no mercado brasileiro e, segundo representantes das montadoras chinesas no Brasil, o objetivo é conquistar 5% do mercado brasileiro até 2015.
A questão é que a conta ambiental não fecha. Hoje a humanidade já consome mais de 30% do que o planeta pode repor em recursos naturais, água e energia. Isso porque um terço da população mundial vive abaixo da linha da pobreza, o consumo é concentrado e ainda cria desperdícios. A Terra tem registrado médias anuais de temperatura cada vez maiores, e as mudanças climáticas se aceleram.
Mais: o ambiente urbano também se deteriora. Os congestionamentos são constantes, inclusive nas cidades médias, e as metrópoles estão literalmente parando, enquanto os índices de poluição e emissão de gases de efeito estufa veicular crescem. Um levantamento recente do jornal Folha de S.Paulo com a Fundação Dom Cabral de Minas Gerais, mostra que o morador de São Paulo (SP) perde em média três horas diárias em congestionamentos, considerando-se apenas os dias úteis, isso significa 15 horas semanais ou praticamente dois dias inteiros de trabalho. No Rio (RJ), são duas horas diárias perdidas no trânsito; em Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS), uma hora.
Em 2009, o Brasil registrou retração de 0,2% do PIB, mas vendeu em 2009 3,2 milhões de veículos, crescimento de 7,7% em relação a 2008. O país atingiu 59 milhões de veículos, dos quais, segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), 34,5 milhões são carros. O Estado de São Paulo concentra 12,5 milhões de carros dessa frota, metade na Capital, que registra um carro para cada dois habitantes.
E a indústria automobilística projeta crescimento dos negócios no Brasil,  chegando a 5 milhões de unidades vendidas em 2015, daí o interesse das montadoras chinesas.
Se o padrão paulistano de concentração de carro por habitante for replicado no futuro; no Brasil, chegaríamos a quase 100 milhões de veículos considerando nossa população atual; na China, apenas para a população urbana, seriam 400 milhões de veículos. A soma chega à metade da frota que circula hoje pelo planeta, estimada pela Organização Mundial da Indústria Automobilística em pouco mais de 1 bilhão de veículos. Sem contar o crescimento de Índia, Rússia, África do Sul, Turquia, México e outros emergentes. De onde tirar matéria-prima, água  e energia para fabricar tanto carro? E como fazê-los rodar nas cidades de hoje e com qual combustível?
Medidas como pedágio urbano e rodízio mais restritivo estão entre algumas das soluções para o trânsito apresentadas por especialistas para melhorar a situação, mas a grande maioria deles insiste que investimentos no transporte coletivo, acompanhado de uma redistribuição urbana mais racional é a melhor solução para o caos do trânsito nas metrópoles brasileiras.
“Não há nenhuma solução milagrosa, não vai aparecer ninguém com uma proposta nova”, sentencia o engenheiro Cláudio Barbieri Cunha, professor do Departamento de Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “Essas cidades precisam de sistemas de transporte públicos eficientes e de maior alcance”, explica. “Mas isso apenas não basta. É preciso que se pense em uma melhor e mais racional distribuição do espaço urbano, que seja capaz de possibilitar as pessoas a se deslocarem por distâncias menores no seu dia-a-dia. Não deveria haver necessidade de uma pessoa sair da zona leste para trabalhar em Moema”.
“É claro que não dá para fazer isso de um dia para o outro, mas é evidente que em uma cidade como São Paulo, onde 50% dos deslocamentos automotivos são feitos em carros individuais, o trânsito vai parar um dia”, alerta Cunha. “Isso só não vai acontecer porque infelizmente o que está regulando o trânsito em São Paulo é o próprio congestionamento. As pessoas estão procurando alternativas aos carros porque não querem ‘pagar mais tempo’ pelo conforto do transporte individual”, pondera Elmir Germani, sócio-diretor da TCC Engenharia de Tráfego e de Transportes e ex-Diretor da Companhia de Engenharia de Tráfego em São Paulo (CET-SP).
“O uso de transporte individual é uma questão cultural no Brasil, ligada à demonstração de status. As pessoas se sentem rebaixadas ao usarem transporte público, por isso todos querem ter seu carro”, analisa Ricardo Oliani, coordenador de Mobilização Comunitária do Instituto Akatu.  “Trabalhamos no sentido de sensibilizar e educar a população para que usem o menos possível o carro, divulgando e propondo alternativas como caminhada, bicicleta, carona solidária e uso de transporte público. Além de serem alternativas mais saudáveis, elas causam menos danos ao meio ambiente e ajudam na mobilidade urbana”.

O Instituto Akatu preparou algumas dicas para o uso consciente do transporte para ajudar você a encontrar soluções ao carro individual e que sejam mais adequadas ao seu dia-a-dia, dando você a chance de contribuir para a melhora do espaço urbano, além de ajudar a combater doenças e o aquecimento global.

Uso Consciente do Transporte

Cada vez mais e mais
A frota de veículos no estado de SP tem aumentado quatro vezes mais depressa do que o número de habitantes. Entre 2002 e 2006, enquanto a população cresceu 6,2%, a frota se expandiu 26%.
Cada vez menos mobilidade e saúde
São vários os problemas causados pelo aumento do número de carros:
dificuldade de circular pelas cidades; estresse provocado pelos congestionamentos; aumento nas emissões de gases de efeito estufa; aumento na poluição do ar.
Cada um de nós tem condições de contribuir para mudar essa situação. Que tal transformar menos… em mais?
Cobrando das autoridades um transporte público de qualidade; mudando seus hábitos de transporte no cotidiano; divulgando a mensagem do consumo consciente do transporte para os seus amigos e familiares. A maioria dos carros que roda nas capitais brasileiras leva apenas um passageiro e ocupa muito espaço público.
Menos trânsito?
… Mais gente no carro
Organize um esquema de carona solidária. Use os sites e softwares já existentes que ajudam a implantar esta alternativa de transporte. A gente perde muito tempo se deslocando de um lugar para outro e nem percebe que existem alternativas de transporte para o nosso dia a dia.
Menos tempo desperdiçado?
… Mais transporte coletivo
Deixe o carro perto de alguma estação de metrô no seu caminho e siga em frente com o metrô e outro transporte coletivo. Talvez exija um pouco mais de esforço, mas vale a pena para reduzir o tempo desperdiçado no trânsito.  A má qualidade do ar nas principais capitais do país provoca a morte prematura de 11,6 mil pessoas por ano.
Menos poluição?
… Mais tecnologias mais limpas
Pressione as empresas fabricantes de automóveis e de combustíveis para usar tecnologias mais limpas já disponíveis e que reduziriam a poluição e melhorariam a saúde de todos. E pressione também os governos para que eles demandem estas soluções das empresas. Se você tem receio de andar de bicicleta na cidade, poderia pensar em trocar o carro pela bicicleta pelo menos nos fins de semana.
Menos stress?
… Mais uso da bicicleta
Aos sábados, domingos e feriados as ruas estão mais tranqüilas e dá para fazer pequenos trajetos e passeios pedalando. E, de quebra, você ainda vai manter a forma, fazendo exercícios de forma divertida e prazerosa. Na hora do “rush” em São Paulo, a velocidade média dos veículos é de 9,7 km/h, apenas um pouco mais rápido que os pedestres, que andam a 5 km/h.
Menos congestionamento?
… Mais horário flexível
Sugira um novo escalonamento do horário de entrada e saída no seu local de trabalho que fuja dos horários de pico de trânsito. Proponha também que, em algumas funções, os profissionais trabalhem em casa, reduzindo a necessidade de transporte.  A queima de combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, é uma das principais causas do aquecimento global.
Menos aquecimento global?
… Mais combustíveis de fontes renováveis
Se você realmente precisa usar um carro, opte por um modelo movido a álcool, cujo uso emite 60 vezes menos gás carbônico que os carros a gasolina. Muitas das mudanças propostas nesse folheto dependem da ação do governo e das empresas, e acontecerão mais rápido se houver pressão da sociedade.
Mais rapidez nas soluções?

… Mais ação de todos

Assuma seu papel de agente transformador e sirva de exemplo e inspiração para amigos e familiares como consumidor consciente. Mobilize outras pessoas para mudarem seus hábitos de transporte e contribuírem para um mundo melhor para todos.

Se você quiser seguir o Akatu no Twitter, clique aqui.

compartilhe
FacebookTwitterLinkedInWhatsAppEmailCopy Link

Veja também