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09.01.14 às 17:24

Menos é menos, e bom

Esqueça a ideia de que você precisa sempre mais. Para ter equilíbrio no trabalho em 2014, tente se aborrecer menos, gastar menos energia e jogar menos tempo fora.
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Artigo publicado originalmente na revista CLAUDIA de Janeiro de 2014. Leia também aqui.

 

Você já deve ter ouvido aquela expressão “menos é mais”, no sentido de valorizar o pouco. Só que não deveríamos dizer que algo é “mais” quando queremos dizer “melhor”. Se insistirmos nessa associação, acreditaremos sempre na ideia de que, para ser bom, tem que ser mais: mais trabalho, mais atividades, mais compromissos, mais dinheiro etc. É claro que podemos ter “mais” coisas boas, mas a provocação acima é para repensar o conceito superlativo e seu efeito na nossa vida. Adoro a causa – campanha de CLAUDIA de mudar o mundo – um dia de cada vez. E minha causa em 2014, no campo privado e no trabalho, é celebrar, cultuar e desejar o menos. Um dia de cada vez.

Se podemos fazer uma revolução por dia, proponho começar a nossa por um projeto de redução: vamos nos aborrecer menos, gastar menos energia, andar menos de carro, acumular menos tarefas, procrastinar menos e jogar menos tempo fora.

Como mulheres conscientes, sabemos que adotar práticas sustentáveis é a única garantia de sobrevivência das futuras gerações. Que tal então pensar no tempo como um bem não renovável? Essa ideia simples e poderosa foi o tema do mais recente encontro da Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente, que abriu a pauta com o pensamento brilhante da escritora Rosiska Darcy de Oliveira, autora de A Reengenharia do Tempo: “Nós temos vivido como se estivéssemos em um tempo inesgotável e como se nossas vidas fossem inesgotáveis. Está se impondo uma aceleração no ritmo de vida que transborda as 24 horas do dia“. Existe, diz Rosiska, um descompasso inexplicável entre todas as possibilidades tecnológicas oferecidas hoje e o uso que é feito delas: no lugar de permitir repensar a sociedade para compatibilizar vida pessoal com mundo do trabalho, temos suprimido um dos polos, que é o mundo afetivo e privado.

Nós, mulheres, somos as maiores vítimas desse transbordamento, visto que empilhamos tarefas como se tivéssemos um tempo extra e mágico em nossos dias – que não se esgota nunca. Só que não. Se há algo que não conseguimos esticar, comprar, renegociar é nosso tempo. Mas, como insistimos em espremer dentro dos seus limites nossas ilimitadas obrigações, a conta não fecha – e, se fecha, é sempre com o custo do sacrifício dos minutos que salvaríamos para uma “extravagância”, como dormir mais ou sentar para ler um livro. Menos, por favor.

Veja bem: a ideia do menos não significa abandonar a carreira pela vida em família ou vice-versa. Em uma pesquisa americana sobre como as mulheres gastam seu tempo, mais de 3 mil entrevistadas de 24 a 54 anos afirmaram não desejar diminuir a carga horária no trabalho. Querem é gastar menos tempo com tarefas domésticas, como limpar a casa ou fazer compras. O curioso é que, embora reconheçam que os parceiros sejam igualmente capazes de exercê-las, apenas uma minoria admite delegar qualquer dessas atividades. É um exemplo prosaico de uma solução possível do “menos”: gastar menos tempo com o que gostamos menos de fazer. Ou começar, um dia de cada vez, a pensar melhor no assunto. Como disse Rosiska na palestra, o primeiro passo para resolver uma questão é identificar o problema e chamar o problema de problema. Precisamos buscar uma solução de vida sustentável, que contemple nossos afetos, talentos, desejos e sonhos, sem que precisemos agir como se o nosso tempo não tivesse fim. E não nos pertencesse mais.

 

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