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01.12.10 às 11:31

Carlos Minc: é preciso pensar antes de consumir

Ministro do Meio Ambiente fala ao Instituto Akatu sobre a campanha “Saco é um saco”, que pretende mobilizar o consumidor para reduzir o uso de sacolas plásticas no Brasil
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A campanha “Saco é um saco” é a primeira que o Ministério do Meio Ambiente faz sobre sacolas plásticas?

Carlos Minc: Em 2008, o Ministério fez uma campanha, nessa mesma linha, sobre redução de embalagens de um modo geral. É um exagero a quantidade de embalagens produzidas hoje em dia em todos os setores de produção e consumo. Na maior parte dos países desenvolvidos, há políticas bem estruturadas para a chamada logística reversa, ou seja, a responsabilidade sobre o lixo gerado pós-consumo. Aqui, estamos avançando muito devagar nisso, e essa é uma agenda pela qual tenho apreço. A campanha de 2008 teve alguns apoios importantes, mas não conseguiu engajar a população como se esperava. Foi bacana, aprendemos com nossos erros e acertos e a expectativa agora é engajar os consumidores, o cidadão comum. Vamos entrar com televisão, rádio, internet, cartazes no metrô. A idéia é mobilizar a população.

O que levou à realização da campanha? Quais são os principais objetivos?

Carlos Minc: Começando pelo objetivo, queremos atingir o consumidor. O foco é cada dona de casa, cada jovem, cada pai de família comprando no supermercado, na farmácia, na quitanda, na padaria. A idéia é ajudar o indivíduo, que pega inocentemente a sacolinha — ali tão fácil, tão à vontade — a fazer uma conta que ele não faz. A sacola não é de graça. Quando descartada, gera um custo alto para a população, para o poder público e para o meio ambiente. Cada sacolinha que nós descartamos tem uma pegada ecológica oculta, tem uma conta socioambiental que não está na cabeça do consumidor. A sacolinha plástica é perfeita para os nossos objetivos. Não se trata de um produto simbólico, ela é bem real, é utilizada todos os dias pelos cidadãos brasileiros e gera um impacto acumulativo significativo. Você sabia que cada brasileiro consome 66 sacolas plásticas por mês? E que é de 135 milhões o volume descartado todo mês? Quando eu era Secretário de Meio Ambiente no Rio de Janeiro, antes de me tornar ministro, elaborei um decreto que se transformou em um projeto de lei regulando o uso das sacolinhas. Vários Estados e municípios estão preocupados com o assunto.  Acho que é papel do Ministério conscientizar os consumidores e induzir as mudanças de comportamento que levem a população na direção da cidadania ambiental.

Que critério foi utilizado para que o Wal-mart fosse escolhido como parceiro dessa campanha?

Carlos Minc: Há várias grandes redes de supermercados fazendo coisas interessantes, e nosso pessoal técnico está em contato direto com a ABRAS, a Associação Brasileira de Supermercados, que deverá aderir à campanha. Mas o Wal-Mart está bem adiantado nos seus programas de sustentabilidade e nos apresentou uma experiência consistente. Em um projeto-piloto, que foi agora estendido ao sul do Brasil, em apenas três meses eles conseguiram economizar 1,5 milhão de sacolas plásticas em lojas do Nordeste com um mecanismo simples: cada pessoa que recusava a sacola na boca do caixa recebia um bônus em dinheiro. Nessa experiência, eles pagaram aos consumidores R$ 34 mil de bônus. Nós identificamos nessa experiência uma inovação concreta e replicável, porque não se trata só de pedir que os consumidores recusem, mas de oferecer alternativas, inclusive com mecanismos financeiros. Além disso, o Wal-Mart não pediu exclusividade, é nosso parceiro de primeira hora. Mas, todos serão bem-vindos, a campanha está prevista para durar seis meses. Há espaço para todos.

Por quanto tempo a campanha será veiculada e quais os resultados esperados?

Carlos Minc: Queremos reduzir o consumo de sacolas plásticas, monitorando isso com pesquisas e números. Por isso, o engajamento da ABRAS é muito importante. Nosso esforço será de seis meses, com muitas novidades, explorando a mídia da internet e o potencial de parceiros que estão percebendo o mérito desta campanha. Por exemplo, temos a oferta da CPFL, distribuidora de energia, de colocar a nossa mensagem “Saco é um saco, para você, para a cidade, para o planeta e para o futuro” em cada conta de luz de mais de 6 milhões de consumidores só no Estado de São Paulo.

Qual o uso ideal das sacolas plásticas?

Carlos Minc: O ideal é não usar, né? Vários países já baniram a sacola plástica como, por exemplo, a China, e, no Canadá, a cidade de Toronto. Até há pouco tempo, falava-se que o bom era o plástico oxi-biodegradável, que, na verdade, não biodegrada coisa nenhuma, apenas fragmenta a matéria em milhares de pedacinhos, criando um novo resíduo não bio-degradável. O bioplástico, feito de amido de milho ou outras fontes, parecia uma solução ótima, mas, com o agravamento do aquecimento global, será mais uma fonte emissora de gases do efeito estufa, quando o que se deseja é diminuir as emissões dos lixões e aterros sanitários. Sendo bem realista, sem diminuir a ternura, o ideal é reduzirmos o uso da sacola plástica e caminharmos com tranqüilidade para banirmos a sacolinha em um futuro próximo. Nossa campanha pretende explorar várias alternativas, e a criatividade da moçada vai aparecer. Você lembra como era antigamente? Um mosaico de soluções: o carrinho de feira, o papel da padaria, o jornal embrulhando o peixe….  O importante é passarmos a mensagem de que é preciso pensar antes de consumir. Quando o problema do aquecimento global se agrava e o meio ambiente se degrada tão dramaticamente, não podemos alegar inocência.

Veja aqui a reportagem sobre a campanha “Saco é um saco”, do Ministério do Meio Ambiente.

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