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15.12.10 às 5:10

Árvores transgênicas crescerão mais rápido

Sequenciamento do genoma do choupo-preto, realizado no ano passado, pode levar a árvores que produzam mais celulose, portanto, mais úteis para a indústria de papel
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Comentário Akatu: os organismos geneticamente modificados (OGM), conhecidos como transgênicos, são extremamente polêmicos. Por um lado, há promessas de avanços que, em geral, levam a ganhos financeiros; por outro, o temor de que a manipulação genética cause desastres ambientais. Produtos transgênicos não devem ser cultivados sem extensos estudos de biossegurança, e o consumidor deve sempre ser informado com bastante clareza se as mercadorias nas prateleiras foram geneticamente modificadas.

Em setembro passado, um grupo de cientistas financiados pelo Departamento de Energia dos EUA anunciou ter decifrado o primeiro genoma arbóreo: o do choupo-preto (também conhecido como álamo-preto), árvore ornamental de grande porte, de casca lisa e acinzentada. Como o seqüenciamento de um genoma é um passo na direção de manipulá-lo, já existem especulações a respeito do surgimento de florestas geneticamente modificadas (transgênicas).

O choupo-negro foi escolhido porque cresce rapidamente e, portanto, é importante no manejo florestal. O objetivo da pesquisa teria sido o de levantar informações que levassem à produção de árvores com crescimento mais acelerado, que produzam mais biomassa para conversão em combustíveis, simultaneamente também retirando carbono da atmosfera. A pesquisa também poderá resultar em árvores com poder de fitorremediação, que poderiam ser usadas para recuperar locais contaminados com poluentes nocivos.

A pesquisa deve levar a uma grande quantidade de protestos de ambientalistas, o que talvez possa explicar a ênfase ambiental ressaltada pelo Departamento de Energia americano. Metas ambientalmente majestosas à parte, os principais objetivos comerciais da pesquisa do genoma arbóreo são crescimento mais rápido e madeira mais proveitosa.

Uma madeira mais proveitosa, nesse contexto, significa principalmente madeira mais útil para a indústria do papel, um enorme consumidor de árvores. E que quer, particularmente, reduzir o nível de lignina na madeira. A lignina é um dos elementos estruturais localizados nas paredes das células que compõem a madeira. O papel é feito a partir de outro daqueles elementos, a celulose. A lignina age como uma cola, unindo as fibras de celulose; portanto, é preciso aplicar uma enorme quantidade de esforço químico e mecânico na sua remoção. Espera-se que, no futuro, as árvores possam ser modificadas para produzirem menos lignina e mais celulose.

Em um avanço fortuito, parece que ambos os objetivos poderão ser atingidos simultaneamente. Há poucos anos, um grupo de pesquisadores da Michigan Technological University, deu início ao processo. Eles produziram choupo-tremedor, outra variedade de álamo, que possui 45% menos lignina e 15% mais celulose do que sua semelhante silvestre, e cresce a uma velocidade duas vezes superior. A mistura obtida pela equipe mantém mais ou menos inalterada a massa combinada de lignina e celulose no tronco e, ao contrário das expectativas de muitos críticos, as árvores resultantes são tão rijas quanto as não modificadas.

A madeira também pode ser aprimorada de outras maneiras. Quando se trata de produzir papel, as longas fibras de celulose são preferíveis às mais curtas. Thomas Moritz e seus colegas da sueca Umea Plant Science Centre descobriram como produzir choupos híbridos que refletem essa preferência industrial. Eles conseguiram produzi-los obrigando um gene a fazer “hora extra” em vez de suprimir sua atividade. O gene que escolheram está envolvido na síntese de um hormônio chamado giberelina, que controla o crescimento e o desenvolvimento dos vegetais, e, mais uma vez, um efeito colateral da alteração foi a aceleração do crescimento.

Como essas árvores transgênicas se adaptarão no ambiente natural é, certamente, uma questão importante, por dois motivos. O primeiro é político: a discussão em torno das lavouras geneticamente modificadas mostra que as pessoas precisam ser convencidas de que esse tipo de tecnologia não terá efeitos nocivos para permitirem sua disseminação. Mas também existe um motivo científico: árvores mantêm interações complexas com outras espécies, algumas das quais necessárias para seu próprio crescimento saudável.

A equipe de Claire Halpin, da Universidade Dundee, na Escócia, tem analisado a questão das interações ambientais, usando choupos híbridos que contêm versões anti-senso de dois outros genes para enzimas envolvidas na produção da lignina. As árvores foram cultivadas durante quatro anos em duas localidades na França e na Inglaterra, para avaliar como elas se adaptariam no ambiente local. A resposta parece ser que se adaptaram razoavelmente bem. Elas cresceram normalmente e mantiveram “relações diplomáticas” normais com insetos e micróbios do solo locais. Elas também produziram celulose de alta qualidade.

As interações das árvores com os micróbios do solo freqüentemente são benéficas para elas (micróbios fornecem nutrientes), portanto trata-se de um resultado importante. Os insetos, porém, freqüentemente são hostis, e alguns pesquisadores estão procurando formas de proteger as árvores da sua ação.

Lynette Grace, da Forest Research, em Rotua, na Nova Zelândia, optou por uma abordagem baseada na introdução do gene para a toxina bacillus thuringiensis (BT), um inseticida natural. Esse gene geralmente é usado para produzir versões de lavouras, como o algodão, que não exigem a aplicação de inseticidas sintéticos. Grace e sua equipe o adaptaram ao pinheiro de Monterry, que costuma ser afetado pelas lagartas da maçã.

Modificações genéticas baseadas na resistência a insetos são ambientalmente polêmicas. Por um lado, reduzem a quantidade de pesticidas necessários. Por outro, teme-se que o gene possa “escapar” das lavouras e surgir em plantas selvagens que compõem o nutriente dos insetos benignos. No caso de árvores, pode nem ser necessário que isso aconteça. Árvores transgênicas, imunes a pragas e com maiores taxas de crescimento, poderão simplesmente se disseminar pelos processos normais de seleção natural. Isso realmente seria a sobrevivência dos mais aptos.

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