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12.08.11 às 16:58

Aprender a não agredir o semelhante

Não é ensinar o homem a deixar o combate, mas sim a perder a combatividade; a ser forte, mas sem perder a ternura nem a compreensão pelo outro
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Comentário Akatu: A cooperação e o compartilhamento são atributos que faltam nas ações da sociedade de hoje. Se quisermos uma sociedade sustentável no futuro, onde o consumo consciente seja parte da cultura, será preciso encontrar um caminho que tenha esses atributos. Em ambos os casos, no cooperar e no compartilhar, o pressuposto é o da existência do diálogo. Observar o que é comum entre mim e o outro e perceber que o que afeta o outro, positiva ou negativamente, também pode me afetar, é revelador do simples fato de sermos humanos, o que já nos coloca em comunhão, tornando possível o diálogo.

O homem é um dos poucos mamíferos que ataca e destrói seus semelhantes: conhece a tortura e é capaz de matar os seres de sua própria espécie. Os especialistas em comportamento animal (os etólogos) dizem que o homem tem um baixo nível de inibição genética frente à vida de seu semelhante. Isto o difere da maioria dos animais superiores que estão naturalmente inibidos de matar um outro ser de sua própria espécie.

Por isso o ser humano deve aprender e ser ensinado a não agredir, nem física nem psicologicamente os outros seres humanos. A agressividade é natural e fundamental em todos os animais, incluindo-se o homem. É ela que gera a força para enfrentar as situações difíceis, abordar os problemas e empreender grandes propósitos: cuidar dos filhos, a pesquisa, a política, o trabalho pela justiça etc. No homem, a agressividade pode converter o amor em hostilidade (ódio) pelo outro e isso depende em grande parte dos ensinamentos e experiências que se tenha tido na vida.

O homem deve ser ensinado a não agredir seu semelhante (nem psicológica nem fisicamente), ensinado a orientar sua agressividade em direção ao amor, entendendo-se isso como uma “luta constante para fazer a vida possível”. Não é ensinar-lhe a deixar o combate, mas sim perder a combatividade. A ser forte, mas sem perder a ternura nem a compreensão pelo outro.

A agressividade se converte em amor ensinando e aprendendo a conhecer o outro, o qual, sendo diferente, é plenamente humano como nós. O outro, por ser diferente, pode ser complemento ou talvez opositor, mas nunca inimigo.

Aprender a não agredir ao outro significa:

– Aprender a valorizar a vida do outro como a minha própria.

– Aprender que não existem inimigos; existem opositores com os quais podemos estipular regras para resolvermos as diferenças e os conflitos e lutar juntos pela vida.

– Aprender a valorizar a diferença como uma vantagem que nos permita compartilhar outros modos de pensar, sentir e agir.

– Aprender a buscar a unidade, mas não a uniformidade.

– Aprender a ter no cuidado e na defesa da vida o princípio maior de toda convivência.

– Aprender a respeitar a vida íntima dos outros. Não agredir ao semelhante é uma aprendizagem que devemos cultivar todos os dias da vida.

 

Este texto integra o livro “Mobilização social: um modo de construir a democracia e a participação” (Autentica Editora LTDA, 104 págs), escrito por Bernardo Toro em parceria com Nísia Maria Duarte Werneck.

Bernardo Toro é escritor, filósofo e educador colombiano, um dos mais importantes pensadores da educação e democracia na América Latina.

 

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