Segundo dados do IBGE, uma em cada três crianças brasileiras está com sobrepeso ou obesidade. Muito Além do Peso, documentário de Estela Renner que estreou no último dia 12/11, traz luz para esse problema. A partir de uma investigação sobre hábitos rotineiros de alimentação entre famílias das cinco regiões do Brasil e de diversas faixas de renda, o filme denuncia que problemas ocasionados pela má nutrição fazem parte da realidade de todas as classes sociais e das diversas localidades do país. Realizada no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, a exibição contou ainda com debate entre Ann Cooper, educadora e diretora do School Food Project, nos Estados Unidos, o pensador e escritor Frei Betto, Amélio Matos, chefe do serviço de Metabologia do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia e a diretora do documentário.
“Mais pessoas morrem hoje por problemas decorrentes de hábitos alimentares do que por homicídio”, alerta Jamie Oliver, chef de cozinha britânico e ativista por uma alimentação saudável, em depoimento durante o filme. E o mais alarmante: os pequenos identificam mais facilmente produtos como salgadinhos, biscoitos recheados ou refrigerantes, do que frutas e legumes.
Para Estela, reconhecer o problema da obesidade infantil é o primeiro passo. “Uma campanha em cadeia nacional de televisão pode ser uma das ferramentas de prevenção. Se a televisão tem 98% de penetração nos lares, uma campanha bem feita, clara e transparente, daria apoio aos pais para um início de educação alimentar”, sugere a diretora. “Existem campanhas eficazes contra dengue, campanha de vacinação contra paralisia infantil. Mas nunca se viu uma campanha potente contra a epidemia de obesidade e sobrepeso infantil. Imagine se 33% das crianças estivesse com dengue só se falaria disso na TV, certo?”, questiona Estela.
Para muitos isto é indício de um sintoma maior. “Vivemos uma crise de valores”, afirma Frei Betto, reforçando a importância de investimento em educação nutricional para seguirmos em direção à solução do problema. Para Ann Cooper, o problema é responsabilidade de todos: os maus hábitos alimentares podem começar a ser resolvidos hoje, com uma ação diferente na rotina de cada pessoa. “Quando cozinhamos o nosso próprio alimento, por exemplo, temos a oportunidade de balancear a alimentação. Adotar menos fast-food no dia a dia, cozinhar mais em casa do que estamos acostumados ou desligar a televisão na hora das refeições. Podemos começar a fazer uma coisa diferente por vez”, sugere a educadora.
Campanhas de contrapropaganda e rotulagem com advertência nos produtos, como já se faz com tabaco e álcool, foram algumas das sugestões de ação de incentivo à educação e informação. O publicitário Alex Bogusky ressalta, em depoimento para o documentário, o poder que as pessoas têm de mudar essa realidade, a partir dos seus atos de consumo, fazendo escolhas mais saudáveis de alimentos. “Se cada um comprar somente a comida que quer ver no mundo, podemos mudar o modelo de produção”, ilustra Bogusky.
O filme está em exibição no Espaço Itaú em algumas cidades do país e deve ocupar outras salas de cinema, festivais e canais educativos de televisão. “Queremos estar em todas as telas possíveis, de todos os tamanhos”, afirma Marcos Nisti, produtor executivo do documentário.
Veja o trailer de Muito Além do Peso:
Saiba mais aqui sobre o filme e onde já está prevista a exibição..
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